O filósofo Guilherme Freire durante algumas de suas entrevistas e transmissões ao vivo abordou a questão do QI. Vamos, pois, aprofundar-nos em algumas dessas ocasiões para aferir a veracidade desses pressupostos. Em 2023, ele realizou uma transmissão onde comentava sobre três hábitos que aumentam e diminuem o QI “segundo estudos científicos”. Quais seriam tais comportamentos? E dos que tendem a reduzir o QI, ele salientou especialmente:
- Nutrição
- Obesidade (Gunstad et al., 2011)
- A cirurgia bariátrica pode melhorar condições médicas associadas à disfunção cognitiva, mas seus efeitos precisam ser mais estudados, incluindo mecanismos reversíveis por meio de pesquisas longitudinais com neuroimagem e marcadores sanguíneos. O prejuízo cognitivo é comum em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, embora esses déficits possam ser, pelo menos parcialmente, reversíveis. Outros estudos citados pelos autores, como (Gunstad et al., 2010) e (Waldstein & Katzel, 2006) reconhecem a obesidade como um fator de risco independente para a disfunção cognitiva. Porém, por ser um estudo observacional, os participantes não foram aleatoriamente designados para receber a cirurgia ou não, o que pode introduzir viés nos resultados.
- Açúcar em excesso (Agrawal & Gomez-Pinilla, 2012)
- Obesidade (Gunstad et al., 2011)
- Usar maconha (Meier et al., 2012)
- Segundo o estudo, os usuários mais persistentes (n = 41) de cannabis que começaram na adolescência mostraram uma queda média de 8 pontos no QI da infância para a idade adulta. Os adolescentes usuários de cannabis demonstraram um declínio maior no QI em comparação com os usuários adultos. De fato, os usuários que iniciaram o uso de cannabis na idade adulta não parecem experimentar um declínio no QI devido ao uso persistente da substância. Isso pode ocorrer porque é mais difícil desenvolver dependência de cannabis antes dos 18 anos de idade.
- Assistir pornografia (Kühn & Gallinat, 2014)
- O estudo analisou adultos (n = 64) saudáveis do sexo masculino. Houve uma associação negativa significativa entre as horas de pornografia relatadas por semana e o volume de massa cinzenta no caudado direito (p < 0,001). Também foi encontrada uma associação negativa significativa entre as horas de pornografia relatadas por semana e a atividade funcional durante um paradigma de reatividade a estímulos sexuais no putâmen esquerdo (p < 0,001). Ou seja, quanto mais horas de pornografia os participantes relataram consumir, menor era o volume de massa cinzenta na área do caudado direito do cérebro. Além disso, o consumo de pornografia também foi associado a uma menor atividade funcional na região do putâmen esquerdo do cérebro em resposta a estímulos sexuais.
- Consumir notícias em excesso
A obesidade tem uma correlação negativa com a inteligência.1 Como apontam Charlton & Dutton (2016) em “The Genius Famine”, em uma sociedade de inteligência em declínio, esperaríamos dentre muitos outros fatores, “saúde mais precária e maior obesidade.”. Dutton (2018) explica em “How to Judge People by What They Look Like” que “as características que te fazem engordar também te empurram para um baixo status socioeconômico” e que a baixa inteligência está associada a um maior índice de massa corporal (Kanazawa, 2014) devido à menor preferência por recompensas a longo prazo (Jensen, 1998), enquanto a baixa consciência (Nettle, 2007) e a extroversão também contribuem para a obesidade devido ao controle deficiente dos impulsos e ao maior prazer em alimentos não saudáveis, respectivamente.
“As pessoas com baixo nível de consciência simplesmente não conseguem se controlar. Elas sempre comerão a fatia extra de bacon, a segunda porção, o bolo que ‘sabem que não deveriam’.”
(Dutton, 2018, “How to Judge People by What They Look Like”)
A concepção de que o açúcar é o principal responsável pela redução da inteligência é não apenas simplista, mas também ilógica. A obesidade, como podemos observar, não causa baixa inteligência; no entanto, é frequente que pessoas obesas não sejam inteligentes, assim como acontece com consumidores de alimentos não saudáveis. Os estudos sobre esses efeitos do açúcar não se replicaram e a quantidade de dados disponíveis é tão baixa que não tem a capacidade de produzir resultados conclusivos.
O segundo hábito, o de usar maconha, não parece estar correlacionado com o declínio do QI. De acordo com o próprio estudo “[…] os usuários que começaram a usar cannabis na adolescência mostraram um declínio maior no QI do que os usuários que começaram na idade adulta. Na verdade, os usuários que começaram na idade adulta não pareceram experimentar um declínio no QI como resultado do uso persistente de cannabis. […]”, os autores justificaram esse resultado com “[…] Isso ocorre porque pode ser difícil desenvolver dependência de cannabis antes dos 18 anos […]”. O maior estudo longitudinal sobre o uso de maconha e mudança no QI (Jackson et al., 2016) utilizou duas amostras para replicar os resultados e um design geneticamente informativo, porém, encontraram poucas evidências para sugerir que o uso de maconha na adolescência tenha um efeito direto no declínio intelectual. E concluíram que “a ausência de diferenças significativas entre irmãos discordantes nos levam a concluir que os déficits observados em usuários de maconha são atribuíveis a fatores de confusão que influenciam tanto a iniciação de substâncias quanto o QI, em vez de um efeito neurotóxico da maconha.”. Portanto, é mais provável que pessoas com QI mais baixo tendam a utilizar maconha, e não o contrário. É claro que, o abuso de drogas pode causar alterações no cérebro que podem variar de danos significativos a mudanças mais sutis. Mas, nós ainda não sabemos se as mudanças mais sutis têm algum impacto em algo tão complexo quanto o QI, que é uma característica complexa do funcionamento cognitivo.
Freire também cita que no estudo sobre a pornografia, o efeito da perda de QI é um pouco maior entre os homens. E que ele tem quase certeza de que o uso de pornografia é mais abundante entre os homens. Quanto a questão do consumo de pornografia: De acordo com os dados do Pornhub sobre usuários dos EUA, coletados ao longo de um período de 10 anos (2007-2017), quando se considera a duração, as mulheres assistem mais pornografia do que os homens. Em média, as mulheres passam 1:14 minutos a mais por dia no site do que os espectadores masculinos. Além disso, entre 2014 e 2015, o número de buscas por homens fazendo sexo oral nas mulheres aumentou mais de 500 por cento, mas o mesmo ocorreu com “fodida com força e gritando”. Em contraste, o termo “sexo romântico” teve um aumento de apenas 125%.2 Isso é consiste com pesquisas recentes, que concluem que entre aqueles que disseram que se excitavam com pornografia violenta, a maioria deles eram mulheres. Esmagadoramente, as mulheres eram mais propensas do que os homens a afirmar que encontravam a agressão excitante e que buscavam ativamente exibições agressivas na pornografia. Em contrapartida, a maioria dos homens se desinteressa por pornografia violenta.3 Bogaert (2001) encontrou uma correlação positiva entre baixo QI e uma preferência por pornografia violenta. Uma relação importante, visto que o baixo QI está associado à criminalidade. Quanto a redução do QI, será que é verdade? Segundo o estudo dos pesquisadores alemães que Freire citou, o uso moderado de pornografia, mesmo por não viciados, está correlacionado com a diminuição da massa cinzenta em regiões do cérebro associadas à função cognitiva.4 Um estudo adicional confirmou os mesmos achados, mostrando que maior exposição semanal a conteúdo explícito online está associada a alterações na estrutura e conectividade do estriado dorsal em homens saudáveis (n = 64). A correlação foi observada com redução do volume de matéria cinzenta no núcleo caudado direito e menor atividade do putâmen esquerdo em resposta a estímulos sexuais breves e estáticos.5 Assistir pornografia está significativamente associado a um maior volume de matéria cinzenta na amígdala (isso é um indicador de e leva a distúrbios comportamentais). E também está significativamente associado a uma pior conectividade entre a semente da amígdala esquerda e o córtex pré-frontal dorsolateral bilateral (Schmidt et al., 2017). O uso de pornografia também leva a uma redução de matéria branca no cérebro (Görts et al., 2023). Outra análise decidiu analisar o desempenho acadêmico e a relação (b = -7.67) entre assistir a filmes de terror, ação ou pornográficos e estabeleceram que esse comportamento estava associado a notas mais baixas nos testes (p < 0.01).6 No entanto, em dois estudos longitudinais mais recentes, o consumo de pornografia não teve impacto no desempenho acadêmico.7 Podemos concluir que não há evidências suficientes para estabelecer relações causais, apenas correlacionais. Outros fatores não considerados nas análises podem estar influenciando essas relações. No momento, essas relações não passam de moralismo especulativo. A maioria dos efeitos prejudiciais da pornografia são exagerados ou inexistentes. A pornografia provavelmente não é prejudicial para o cérebro, mas pode ser potencialmente prejudicial psicologicamente se abusada ou se tornar um “vício”.
Assim como os estudos sobre o efeito do açúcar na inteligência, não fica claro a que estudos Freire se refere na questão do consumo excessivo de notícias, pois ele não os cita diretamente ou indiretamente. Porém, é no mínimo curioso que ele tenha considerado (após “olhar os papers”) isso um fator que realmente afeta a inteligência.
Na subsequente seção, iremos analisar os costumes que supostamente elevam o QI, entre os quais ele enfatizou:
- Nutrição
- Consumo de iodo (Segundo Smith (2010), a deficiência de iodo reduz o QI total em 13,5 a 15 pontos no nível da população como um todo)
- Música clássica (Rauscher, Shaw, & Ky, 1993)
- Leitura com profundidade e estudo (Ruffing et al., 2015)
- Meditação consciente (Mrazek et al., 2013)
Na questão da música clássica, Guilherme Freire enfatizou que ouvir música clássica aumenta o QI imediatamente. Ele mencionou que é possível perceber uma melhora na capacidade cognitiva logo após ouvir música clássica, o que se reflete em uma execução melhor nos testes de QI, devido à melhora na memória e em outras habilidades. Além disso, a música clássica tem o poder de reduzir a propensão à violência e aumentar a capacidade de realizar tarefas. Isso ocorre porque a música clássica, por sua harmonia e complexidade, impacta de maneira profunda e mais significativa que outros gêneros musicais, estimulando os neurônios e ativando áreas cerebrais associadas à beleza. No entanto, Freire observa que assim como a música clássica pode melhorar o QI, porquê exige um envolvimento mais profundo do cérebro, certos tipos de música podem ter o efeito oposto. Ele destaca que músicas com menos ênfase na melodia e na harmonia, e mais foco no ritmo, tendem a reduzir o QI e podem promover comportamentos impulsivos, como paixões sexuais e violência.
Freire aponta que quando você começa a cultivar o hábito da leitura, independentemente de ser homem ou mulher, suas chances de sucesso profissional e desempenho acadêmico aumentam. E a forma como você lê faz toda a diferença. Ler de forma superficial, seja jornal, qualquer coisa ou o primeiro livro que encontrar, não contribui significativamente para o desenvolvimento da inteligência. Embora não prejudique, essa abordagem não proporciona um aumento real na capacidade intelectual. Ler com profundidade e dedicação, especialmente obras de qualidade, e compreendê-las faz toda a diferença. Estudar para entender os clássicos, em vez de apenas passar superficialmente por eles, resulta em uma compreensão mais profunda e duradoura. Portanto, a leitura pode aumentar o QI, mas apenas quando realizada de forma significativa e reflexiva. É mais do que simplesmente consumir informações; trata-se de mergulhar no conhecimento e extrair o máximo de cada experiência de leitura. Ele também argumenta que, geralmente, os líderes executivos globais, aqueles que dirigem empresas e serviços, são indivíduos que se dedicam bastante à leitura; ele especifica que se trata de um estudo aprofundado, diferente do conceito comum de leitura que temos.
Sobre a meditação, ele afirmou que a meditação consciente ou mindfullness melhorou a compreensão, o raciocínio, a visão do ambiente e a memória e equiparou com a meditação católica, pois segundo ele, a meditação católica possui presença mental. E a igreja católica ensina isso. Freire também disse que a igreja católica ensina tudo que tem nessa lista (hábitos que aumentam o QI) há pelo menos mil anos.
Algo a se notar é que o Guilherme Freire não costuma citar específicamente o nome, DOI, ano ou os autores dos estudos, apenas o nome da universidade, do journal ou o país em que foi realizado. Quero deixar claro, que em suas próprias palavras, Guilherme Freire comenta: “às vezes se pega um estudo que basicamente não é tão bom ou tal, tenta falar, aqui a ciência, mas existem estudos que são de melhor qualidade sem dúvida, então dessa vez eu abri os estudos, olhei com calma, comecei a ver o que tinha dentro do paper, como que eles tinham feito a amostragem para poder trazer para vocês esses hábitos”. Freire deveria se fazer a seguinte pergunta: É mais provável que pessoas menos inteligentes tenham maior propensão a serem obesas e a terem hábitos alimentares menos saudáveis? Sejam mais propensas a terem dependência de drogas, como a maconha? Consumirem mais pornografia? Ter um menor interesse em música clássica, leitura e meditação, ou esses fatores interferem na inteligência? Como por exemplo, nos EUA, pessoas inteligentes preferem música clássica e não gostam de músicas country, cristã, de “escuta fácil” e especialmente de rap.89
Vamos abordar agora a questão do aumento de inteligência, esses hábitos realmente aumentam a inteligência? Pesquisadores da Universidade de Nova York mantêm o Banco de Dados de Aumento da Inteligência, composto por estudos que devem seguir critérios específicos (uma amostra retirada de uma população geral, não clínica; um design experimental puro randomizado controlado; uma intervenção sustentada; e uma medida de inteligência amplamente aceita e padronizada como variável de resultado). Estudos sobre suplementação alimentar para gestantes e recém-nascidos, intervenções educacionais precoces, leitura e frequência à pré-escola não mostraram resultados consistentes no aumento do QI. A pesquisa nutricional se concentrou no ácido graxo PUFA (essencial para o desenvolvimento e função cerebral), encontrado no leite materno. Uma revisão de 84 estudos relacionados (a relação entre amamentação e aumento do QI) indicou vários fatores de confusão potenciais, como a tendência de pais com QIs mais altos amamentarem mais. A conclusão foi que o leve aumento no QI atribuído à amamentação pode na verdade ser influenciado por fatores de confusão, incluindo genética do QI (Walfisch et al., 2013). Esse foi também o resultado de um estudo prospectivo anterior envolvendo pares de irmãos, um dos quais foi amamentado e o outro não (Der et al., 2006). Outras análises sobre outros nutrientes como ferro, zinco, vitamina B6 e suplementos multivitamínicos não mostraram resultados significativos no aumento da inteligência.10 Portanto, a maioria das evidências disponíveis não sustenta a ideia de que esses hábitos possam aumentar a inteligência. Falando especificamente sobre o iodo, Freire menciona um site sobre saúde, porém não faz referência a nenhum estudo específico. No artigo, encontramos informações sobre o ponto citado anteriormente: “o mais importante é ingerir iodo suficiente durante a gravidez, a amamentação e até o segundo ano de vida”. Entretanto, a dieta ocidental já é rica em alimentos como leite, produtos lácteos, ovos e peixes brancos. Portanto, a deficiência de iodo dificilmente é um problema. Mesmo que alguém não consuma muito sal iodado ou tome suplementos, não terá problemas relacionados a isso. Além disso, seria extremamente improvável que o consumo de iodo torne alguém mais inteligente. Em caso de deficiência de iodo, a pessoa apenas se tornaria menos inteligente. Nos Estados Unidos, a deficiência de iodo é rara, e no Brasil, a ingestão de iodo é mais do que adequada11, podendo até mesmo ser excessiva, o que pode ser prejudicial.
Flynn (2012) argumenta em “Are We Getting Smarter?: Rising IQ in the Twenty-First Century” que “Se a dieta foi um fator nas nações avançadas na era moderna, foi fraca o suficiente para ser superada por outras causas de ganhos de QI ao longo do tempo. Por exemplo, os ganhos de QI nos EUA parecem bastante constantes desde 1932 até 2006. A Grande Depressão poderia ter piorado a nutrição, mas os espetáculos científicos e os fatores do mundo moderno estariam em pleno funcionamento.”.12 O autor propõe para os ambientalistas que examinem se houve melhoria na nutrição desde 1950, especificando onde essa melhoria ocorreu e entre quais setores da população; e se a história dietética de várias nações coincide com as tendências de QI país por país, com atenção especial para classe e etnia.13 Para algumas pessoas, a nutrição é uma explicação tão plausível que elas justificam a necessidade de melhorar a educação, a nutrição e intervir nos lares disfuncionais e na vida de crianças abusadas, talvez chegando ao ponto de removê-las do controle de seus pais incompetentes. No entanto, tais medidas seriam “caras e socialmente controversas.”14 Os pesquisadores genéticos sabem que os genes sempre expressam sua função dentro de um contexto ambiental que pode influenciar a expressão de muitas maneiras. As fontes específicas desses efeitos não genéticos na inteligência ainda não foram determinadas, assim como genes específicos ainda não foram identificados.
Haier (2016) nos mostra que se você fizer um teste de inteligência quando estiver doente e incapaz de se concentrar, sua pontuação pode ser uma má estimativa de sua inteligência. Se você refizer o teste quando estiver bem, sua pontuação será uma estimativa melhor. No entanto, apenas porque sua pontuação aumenta, não significa que sua inteligência tenha aumentado no intervalo entre os dois testes. A música clássica realmente aumenta o QI? No mesmo livro, Haier demonstra que o impacto do “Efeito Mozart” na elevação do QI foi observado somente durante os 10-15 minutos do teste. Isso levou à sugestão de investigações adicionais sobre a duração do intervalo entre a audição e o teste, variações no período de audição, impactos em outras medidas de inteligência e memória, diferentes tipos e estilos musicais, bem como possíveis discrepâncias entre músicos e não músicos. Haier critica o fato de que os revisores da Nature, aparentemente, não consideraram a inadequação de tratar os três testes de raciocínio distintos como medidas equivalentes de raciocínio abstrato, com base na correlação entre eles, o que foi considerado um erro psicométrico significativo. Além disso, esses revisores não solicitaram informações detalhadas sobre os participantes, como seus QIs, experiência e habilidades musicais. O mais preocupante foi a interpretação ingênua das pontuações nos testes como pontuações de QI espacial, juntamente com a afirmação de um aumento de oito pontos, o que foi criticado como uma abordagem psicometricamente falha. E conclui dizendo que pode-se argumentar que este relato de um único experimento com uma amostra pequena e uma descoberta notável não estava suficientemente respaldado por evidências extraordinárias, tornando-o inadequado para publicação na Nature, especialmente dada sua relevância para a teoria e prática em psicometria. E que embora os autores tenham se concentrado no QI espacial, a cobertura midiática subsequentemente ampliou a compreensão do “Efeito Mozart” para incluir melhorias gerais no QI. Além da mídia, alguns pesquisadores de inteligência na época acolheram qualquer achado que sugerisse a plasticidade considerável do QI como uma evidência contrária a influências genéticas dominantes na inteligência. O artigo na Nature também ecoou o desejo por métodos simples de aumentar a inteligência a baixo custo e com baixos riscos.15 Haier também fez críticas a replicação independente dos resultados e mencionou um estudo feito cinco anos após a publicação original, junto de duas cartas críticas e uma resposta do autor principal do artigo original que apareceram na Nature (Chabris, 1999). A meta-análise (16 estudos sobre o Efeito Mozart) de (n = 714) com vários testes de raciocínio diferentes do Dr. Christopher Chabris sobre o Efeito Mozart revelou um impacto mínimo na inteligência geral e um leve aumento nos testes espaciais-temporais, com um aumento de cerca de 1,4 pontos no QI geral e 2,1 pontos no raciocínio espacial-temporal, atribuído principalmente ao humor positivo evocado pela experiência agradável de ouvir Mozart (aumentam a excitação, especialmente no hemisfério direito responsável pelo processamento de informações espaciais-temporais). Uma segunda carta sobre os efeitos de ouvir Mozart na inteligência relatou uma falha completa em replicar os resultados do experimento original de 1993, e possui críticas à interpretação errônea dos resultados originais com resultados que mostraram desempenho inferior em alguns testes após a audição. Embora a alegação original de aumento na inteligência tenha sido corrigida, a confusão persistiu devido à interpretação errônea dos resultados como “equivalentes de QI” e pela divulgação na imprensa. Haier mesmo menciona que a diferenciação entre inteligência espacial e geral deveria ter sido mais precisa. Ele observa que ao longo do tempo, mais pesquisas foram divulgadas com resultados contraditórios e não uniformes. Contudo, em 2010, outra análise abrangente (Pietschnig et al., 2010) com um número maior de estudos (40 no total) e uma amostra significativa (n = 3000) esclareceu essa questão, incluindo estudos não publicados, uma vez que pesquisas com resultados desfavoráveis frequentemente não são divulgadas, o que pode distorcer a literatura a favor de resultados positivos. Outro aspecto foi a análise separada dos estudos conduzidos pelos autores originais do relatório de 1993, comparados com estudos conduzidos por outros pesquisadores. De forma geral, essa análise abrangente revelou um efeito leve da música de Mozart no desempenho em tarefas espaciais, com um efeito semelhante e leve para outras condições musicais. A inclusão dos estudos não publicados ajustou esse resultado para um efeito ainda menor. Os resultados dos estudos conduzidos pelos pesquisadores originais frequentemente mostraram efeitos maiores do que aqueles dos estudos realizados por outros investigadores, indicando uma influência confusa da afiliação da afiliação laboratorial. Os autores da análise concluíram que, “No geral, há pouco que ainda apoiaria a noção de um aumento específico no desempenho de tarefas espaciais através da exposição à sonata KV 448 de Mozart”. Haier finaliza enfatizando que, apesar dos potenciais benefícios da exposição e treinamento musical, o aumento da inteligência, seja geral ou espacial, não está entre eles. Ele destaca que o chamado Efeito Mozart deveria servir como um alerta para qualquer pesquisador que alegue aumentos significativos no QI após uma intervenção. No entanto, lamenta que essas lições não tenham sido levadas a sério e que tais alegações ainda persistam.16 No mesmo capítulo, Haier faz críticas às afirmações de que o treinamento em uma tarefa difícil de memória de trabalho resultam em uma melhoria “dramática” em um teste de inteligência fluida e sobre os “jogos de computador para crianças aumentarem o QI”.
Kirkegaard chega nas mesmas conclusões que Haier, devido ao QI ser simplesmente uma pontuação, é suscetível a manipulações. Por exemplo, ao fornecer um teste junto com as respostas, é possível obter uma pontuação perfeita e um QI de 130-140 — o máximo possível no teste. No entanto, isso não reflete necessariamente uma inteligência excepcional; na verdade, indica uma medição inadequada, comparável a medir a temperatura no topo do Monte Everest usando um termômetro na boca enquanto lá em cima. Essa abordagem resultaria em uma leitura de temperatura extremamente alta, embora não precise, dada a localização incorreta do termômetro. Assim como Woodley et al. (2017) argumentaram que em certa medida, estimativas diretas do efeito Flynn (em termos de pontos de QI ganhos por década) são problemáticas, pois seria como comparar os escores de QI de coortes nascidas com várias décadas de diferença e seria análogo a medir o ponto de ebulição da água usando um termômetro Celsius (Centígrado), e depois, 10 anos depois, re-medir o ponto de ebulição usando um termômetro Fahrenheit e concluir que o ponto de ebulição aumentou em 112 graus. Por conta do QI ser a escala e inteligência o traço. Pode-se aumentar o QI facilmente (por exemplo, dando às pessoas as respostas do teste), mas não a inteligência.
É completamente plausível afirmar que a ideia de leitura com profundidade e estudo a qual Freire se refere é o que conhecemos como schooling (o processo formal de educação realizado em escolas, colégios e universidades), ou seja uma intervenção social. O que são as intervenções sociais? São tratamentos ou programas para elevar a inteligência que não são médicos ou biológicos em sua base. As intervenções sociais, melhoram a inteligência ajudando o funcionamento psicológico ou aprendizado de uma pessoa. Elas não criam mudanças importantes na biologia do cérebro, mas alteram como as pessoas pensam e raciocinam. Ao contrário das intervenções biológicas, que elevam a inteligência melhorando a saúde cerebral (ou seja, tratando a deficiência de iodo) ou prevenindo danos cerebrais (ou seja, tratando PKU17 ou prevenindo envenenamento por chumbo). Dentre esses quatro hábitos que prometem aumentar o QI, três deles são intervenções sociais (escutar música clássica, processo formal de educação e a meditação). Sobre o processo educacional e a leitura, é correto afirmar que ler apenas fornece conhecimento, e conhecimento não necessariamente se traduz em inteligência. Quando você lê, simplesmente torna sua mente consciente, ciente de mais informações. Apenas ler e aprender de forma superficial nunca podem alcançar esse nível de transformação. O QI está ligado à genética e permanece estático ao longo da vida. Por outro lado, o conhecimento é adquirido por meio da leitura. A leitura pode ajudar você a acumular habilidades verbais, as quais estão fortemente correlacionadas com o fator g, mas a leitura por si só aumenta seu potencial bruto de g e não a inteligência cristalizada. A educação pode elevar o QI em certos testes, mas isso não reflete um aumento geral na inteligência; nem se traduz em melhorias práticas na vida real (Kirkegaard, 2022). Nossa análise anterior confirmam os mesmos resultados. E também não podemos afirmar que é possível aumentar facilmente a aprendizagem apenas adicionando mais educação formal. Apesar das amplas oportunidades e dos recursos abundantes disponíveis na internet, a aprendizagem em geral não apresentou avanços significativos. Uma meta-análise recente revelou que programas educacionais para crianças, que visam aumentar o QI, inicialmente aumentam em média três pontos, mas esse efeito desaparece após quatro anos, indicando uma falta de impacto duradouro na inteligência. Programas educacionais para crianças, que tendem a ter QIs mais influenciados pelo ambiente do que os adultos18 e que são especificamente projetados para aumentar a inteligência, de fato causam um aumento no QI no início. No entanto, o efeito desaparece em apenas alguns anos.19 Supondo que fosse verdade, ler e estudar aumenta o QI, o aumento do QI acompanha os escores de inteligência, significando que as habilidades são transferíveis para o desempenho no trabalho e em outros domínios? Ou a escola simplesmente ensinou os alunos a pontuarem mais alto em um teste de QI, sem conferir um verdadeiro aumento na inteligência geral? Os dados sugerem que se a escola faz os alunos pontuarem mais alto nos testes de QI, é simplesmente porque as habilidades que foram ensinadas provavelmente eram aquelas necessárias para se sair bem nos testes de QI. Em outras palavras, os alunos não se tornaram mais inteligentes de forma geral. Isso não é difícil de intuir, já que a escolarização gira em torno de fazer provas. Isso significa que, embora a escola possa aumentar o QI, não é provável que aumente a inteligência geral e todos os resultados de vida associados a ela. Além disso, qualquer inteligência conferida pela educação provavelmente sofrerá uma diminuição extrema ao longo de apenas cinco anos.
A meditação consciente aumenta o QI? A maioria dos estudos publicados sobre meditação utilizou modelos fracos ou falhos (como comparar pessoas que escolheram se inscrever em uma aula de meditação com pessoas que não o fizeram). Os benefícios mencionados aqui são apenas os apoiados por estudos com atribuição aleatória. Existem muitos tipos de meditação, mas todos eles têm em comum uma tentativa consciente de focar a atenção de forma não analítica. Entre os benefícios “comprovados” estão: Aumento da satisfação, redução dos níveis de ansiedade, aumento da autoestima, empatia e confiança e melhoria da memória.20 Algumas pessoas, como Sternberg diriam que essa redução ajuda na questão da ansiedade de teste, que significa o que o nome sugere, uma tendência a entrar em pânico e ter desempenho inferior durante os testes psicométricos convencionais.21 Isso lembra a ideia do “efeito da ameaça do estereótipo”, que foi refutado por diversos estudos, como o de Wax (2009), que examinou em detalhes o conceito de Ameaça de Estereótipo (AE). Sua análise revela que as AE percebidas são significativamente exageradas e que seus impactos são superestimados. Há poucas evidências que apoiam os efeitos prejudiciais dos estereótipos, e a pesquisa que sustenta tais afirmações tem sido, em grande parte, falha. Zigerell (2017) demonstrou que a literatura de pesquisa demonstra que a ameaça do estereótipo (o estresse induzido pelo medo de se conformar a um estereótipo) diminui a capacidade cognitiva das minorias é resultado decorrente de um viés de publicação. Corrigindo essa ameaça de estereótipo não produz efeito significativo. O psicólogo brasileiro Heitor Fernandes e seus colegas reuniram estudos sobre diferenças raciais em Neuroticismo, especialmente na ansiedade, em uma meta-análise. Eles demonstraram que os asiáticos orientais (sem divisão entre norte e sul nos estudos) apresentam os níveis mais altos de ansiedade social, seguidos pelos brancos e, em seguida, pelos negros.22 Considerando que, mesmo que a ansiedade de teste existisse, os asiáticos orientais são mais propensos a sofrer de ansiedade e mais propensos a tirar suas próprias vidas. Então, o pior grupo nos testes de QI deveria ser o dos asiáticos orientais (China, Japão, Coreia e Taiwan), o que não acontece. Além disso, retraimento (tendências de evitar situações ou interações sociais devido a sentimentos de ansiedade, insegurança ou desconforto emocional) e ansiedade aumentada estão estatisticamente associados a inteligência mais baixa.23 Mas como poderíamos remover essa suposta “ansiedade” dos testes? Através de imagens cerebrais, que são mais objetivas, especialmente as imagens estruturais, e não sensíveis a uma série de fatores que potencialmente podem influenciar os escores dos testes psicométricos, como motivação ou ansiedade.24 Os defensores da meditação consciente também citam o fato de que a meditação aumenta a atenção. A atenção é um componente. Portanto, se você estiver fazendo um teste de inteligência e tomar algum medicamento ou realizar alguma manipulação, como meditação, que aumente sua atenção, você pode passar pelo teste um pouco mais rápido. Se você passa por ele de maneira melhor não é tão claro. Outros afirmam que a meditação permitirá que você se torne um observador muito bom, já que ela aumenta a consciência. Portanto, você se tornará um observador mais atento à identificação de padrões, desenvolverá pensamento crítico e terá um processamento mental mais ágil. Então, é adequado afirmar que embora a meditação tenha seus benefícios, a ideia de aumentar drasticamente a inteligência através dela é uma simplificação exagerada e pouco fundamentada. Acreditar que simplesmente sentar e meditar pode transformar alguém em um mestre da observação e do pensamento crítico é como acreditar que ficar olhando para o céu fará você se tornar um astronauta. Pense desta forma: um indivíduo inteligente não terá algo novo adicionado à sua vida, porém se tornará uma versão melhor de si mesmo, pois proporcionará clareza de pensamentos e emoções.
Influências ambientais únicas precisariam atender a quatro requisitos para serem consideradas reais. Jensen (1974) chama essa influência de “fator X”, indicando sua singularidade.25 O fator X precisa afetar apenas membros do grupo de menor pontuação no QI, influenciar quase todos desse grupo de forma única para criar diferenças médias entre grupos étnicos, e sua influência precisa ser igualmente distribuída para evitar aumento da variabilidade nos resultados de QI. Os requisitos descartam explicações comuns para as diferenças nas médias de QI de grupos, como pobreza, nutrição deficiente, exposição ao chumbo, qualidade educacional baixa e negligência parental, pois essas desvantagens não são exclusivas de nenhum grupo étnico nem afetam todos os seus membros igualmente (Sesardic, 2000).26
Com base no conhecimento e tecnologia atuais, ninguém sabe como aumentar a inteligência de pessoas que já vivem em ambientes benéficos (Lee, 2010). Dada a história decepcionante dos esforços para aumentar a inteligência, a suposição padrão sobre os efeitos de qualquer nova intervenção deve ser de que ela não funciona até ser comprovada o contrário em estudos bem elaborados e replicados.
Herdabilidade
Deixando algumas ressalvas, o Guilherme Freire aponta que: “lembrando que o QI tem um componente natural, você nasce com um certo range de QI, então existe um componente e existe um componente mutável, então ao longo da vida você vai desenvolvendo, aumentando, aí tem milhões de estudos que mostram que você vai para um lado ou para o outro, então tem mais ou menos um range”. O que ele quer dizer aqui com “componente natural” é a questão da herdabilidade do QI, isto é, o grau em que as diferenças de traços entre as pessoas são devidas a diferenças genéticas. E o que eu imagino que ele queira dizer com “range de QI”, é o desenvolvimento dele ao longo da vida (dos 9 aos 15 anos). E ele cita um “componente mutável”, que é a outra porcentagem afetada pelo ambiente compartilhado, ou seja, os fatores ambientais que são compartilhados por membros de uma mesma família. Porém, não fica claro o que signifcaria ir “para um lado ou para o outro”. Levando em conta que o Efeito Wilson aponta para uma explicação genética para a inteligência. Se o ambiente é o principal motor impulsionando a inteligência, então esperaríamos que sua importância aumentasse com a idade devido aos seus efeitos cumulativos. Mas, na verdade, acontece o oposto. O efeito relativo dos fatores hereditários aumenta ao longo da infância e adolescência, e o efeito do ambiente diminui.27 Um estudo com crianças holandesas mostrou uma redução ainda mais precoce da influência do ambiente compartilhado, chegando a zero por volta dos 12 anos de idade.28 Uma meta-análise com base em 11.500 pares de gêmeos e irmãos revelou que, à medida que os indivíduos progridem pela infância, “os genes são responsáveis por proporções crescentes da variação na capacidade cognitiva”.29 O que isso significa? Que os genes desempenham um papel cada vez mais significativo na variação da capacidade cognitiva a medida em que as crianças crescem. Ou, ele pode estar se referindo ao fato da inteligência aumentar até a meia-idade e depois diminuir a partir da meia-idade em diante.30 O fato é, a inteligência possui uma hereditariedade de cerca de 80%31, sendo principalmente herdada dos pais.32 São ao menos 26 anos desde a consolidação deste fato, uma estimativa conservadora, visto que destacadas autoridades como Jensen (há 52 anos) e Eysenck (há 45 anos) estimaram esse valor muito antes. Quais são os fatores ambientais? Os fatores ambientais incluem nutrição suficiente e um ambiente intelectualmente estimulante o suficiente durante o crescimento. Durante a infância, o QI é influenciado principalmente pelo ambiente, refletindo a inteligência dos pais; somente na idade adulta, o ambiente reflete a inteligência individual, representando então 80% de fator genético.33 Não existem estudos conclusivos sobre o papel desses fatores ambientais (educação formal, serviços de saúde e nutrição), portanto, é prematuro afirmar o impacto deles na inteligência.
Efeito Flynn
O Efeito Flynn é o aumento observado nas pontuações dos testes de QI que ocorreu em muitas partes do mundo no século XX. Por exemplo, um americano que recebe uma pontuação de 100 em um teste de QI em 1990 alcançaria uma pontuação mais alta se fizesse um teste de 1950. O aumento é geralmente acreditado ser de cerca de dois a três pontos por década. Nos últimos anos, o Efeito Flynn começou a se reverter em alguns países desenvolvidos, especialmente na Europa Ocidental — ou seja, a inteligência testada está diminuindo, em média.34 Porém, o Efeito Flynn é utilizado por alguns ambientalistas para questionar explicações hereditárias das diferenças de QI entre raças. Hereditários (e muitos ambientalistas) tendem a acreditar que a razão pela qual o Efeito Flynn agora está se revertendo em países desenvolvidos é porque as melhorias ambientais que impactam a inteligência atingiram um “teto natural”. O Efeito Flynn mostra que as pontuações de todos os grupos aumentam ao longo do tempo, e a lacuna de QI entre brancos e negros no mundo desenvolvido não muda significativamente com esses aumentos. Isso indica que a inteligência geral, o fator g simplesmente não pode ser alterado por fatores ambientais. Então, quaisquer aumentos reais nas pontuações de QI são devidos aos componentes não-g da inteligência.35 Uma meta-análise de 2013 destacou que o Efeito Flynn é impulsionado por fatores ambientais, enquanto as diferenças raciais no QI têm causas distintas. Esta análise também mostrou que os ganhos no QI ao longo do tempo não influenciam as diferenças entre grupos raciais.36 Uma declaração conjunta de pesquisadores de inteligência reiterou que não há evidências de convergência nas curvas de QI entre diferentes grupos étnicos devido ao Efeito Flynn ou outras razões.37 Podemos concluir que o Efeito Flynn simplesmente não explica as diferenças de QI entre raças. E embora o efeito Flynn tenha continuado de forma monótona por um século, a maioria de suas causas propostas não o fez. Por essa razão, nutrição, televisão e internet não podem explicar a maior parte do efeito Flynn.38
Diferenças raciais
Em nenhum desses vídeos Freire aborda as diferenças raciais na inteligência. Imagino que por ser um assunto tabu, como mostra Pesta, Kirkegaard, & Bronski (2024), nessa pesquisa, 500 americanos avaliaram 29 perguntas tabu, dentre elas, Raça e QI foi a vencedora, vencendo até mesmo incesto, pedofilia, germes gays, etc. Mesmo que as evidências de outras pesquisas não mostrem de forma geral que acreditar que uma diferença entre grupos é genética esteja relacionado a visões hostis sobre tais grupos.39
Nome | Universidade | Ano |
Jason Richwine | Universidade Harvard | 2013 |
Amy Wax | Universidade da Pensilvânia | 2017 |
Noah Carl | Universidade de Cambridge | 2019 |
Bo Winegard | Faculdade de Marietta | 2020 |
Sandra Sellers | Universidade de Georgetown | 2021 |
David Batson | Universidade de Georgetown | 2021 |
Bryan J. Pesta | Universidade Estadual de Cleveland | 2022 |
Emily Willoughby | Universidade de Minnesota | 2022 |
Nathan Cofnas | Universidade de Cambridge | 2024 |
Até o momento, temos pelo menos nove acadêmicos que foram usados como exemplos para qualquer pessoa que tenha a ousadia de investigar essas questões tabu dentro da academia. Dentre essa lista, quatro (Noah Carl, Bo Winegard, Sandra Sellers e Nathan Cofnas) perderam seus empregos,40 e Amy Wax foi impedida de ensinar.41 Em 12 de abril, o filósofo mais famoso do mundo, Peter Singer (41.528 citações no Google Scholar), defendeu Cofnas escrevendo uma postagem de blog. Outros importantes acadêmicos de todo o mundo, como Steven Pinker, Brian Leiter, Robert Plomin e Partha Dasgupta, escreveram uma carta de apoio à sua liberdade acadêmica.42
Toda essa supressão da pesquisa envolvendo a inteligência não trará nenhum benefício. Privadamente, os especialistas em inteligência têm visões mais hereditárias do que expressam publicamente.43 Em público, os psicólogos são menos propensos a publicar estudos que encontrem uma ligação entre o QI e as notas escolares.44 E é importante que essa supressão da ciência acabe. Por exemplo, os estudantes do último ano de psicologia sabem muito pouco sobre o tema da inteligência. Mas, mais importante ainda, são gravemente desinformados e têm visões extremamente negativas do campo. Eles não apenas carecem de uma formação adequada na ciência da inteligência, mas, em vez disso (e pior), foram expostos a afirmações superficiais (mas muitas vezes dogmáticas), desatualizadas e enganosas.45 Esse cenário é percebido como no ano de 1969, quando Jensen apresentou uma hipótese em um artigo, sugerindo que a genética poderia ser uma influência significativa nas diferenças médias entre grupos raciais. No entanto, ele não chegou a concluir que esse fosse o caso. Apenas levantar essa questão o levou a ser rotulado como racista por muitos críticos.46 Nos Estados Unidos, por exemplo, os esquerdistas brancos se recusam a acreditar na ciência, em relação a diferenças raciais na inteligência, eles tendem a classificar negros como mais inteligentes do que brancos,47 mesmo que não haja literalmente nenhuma evidência científica. Mesmo os pesquisadores de inteligência mais progressistas da ala esquerda, como Kathryn Paige Harden, Eric Turkheimer, Richard Nisbett e James Flynn têm admitido a lacuna de QI.
Essa disposição para encarar dados objetivos se estende além das questões raciais. Por exemplo, meninas e mulheres geralmente apresentam um desempenho ligeiramente inferior aos meninos e homens na maioria dos testes de habilidade espacial. No entanto, ao reconhecer essa diferença, os psicólogos puderam desenvolver intervenções que visam aprimorar essas habilidades. Se tivéssemos ocultado os resultados para evitar magoar os sentimentos das pessoas, não teríamos sido capazes de implementar essas intervenções.48
Dadas essas devidas declarações, continuaremos com a questão das diferenças raciais em inteligência. Existe uma diferença de 1 desvio padrão (1 SD) bem estabelecida no QI entre negros e brancos,49 a qual tem se mantido essencialmente do mesmo tamanho pelo tempo em que tem sido registrada.505152 É amplamente reconhecido que as disparidades entre pessoas negras e brancas são mais evidentes em avaliações que mensuram habilidade cognitiva geral, também conhecidas como “testes carregados de g” (Como por exemplo o PISA). Mais precisamente, a diferença na habilidade cognitiva entre pessoas negras e brancas é de cerca de 1,16 desvios padrão.5354 É completamente plausível afirmar que essas pessoas que negam a herdabilidade da inteligência e das diferenças raciais possuam o que conhecemos como “Genetofobia”, o medo de explicações genéticas para comportamentos, competências, características e preferências humanas. Muitas vezes manifesta-se como teoria da tábula rasa (a mente humana é como uma “folha em branco”) e determinismo ambiental.55
Consequências
Você provavelmente já ouviu pessoas dizerem coisas como: “Os testes de QI não preveem nada importante”. Isso é absolutamente verdadeiro – desde que você não pense que notas, empregos, dinheiro, saúde ou longevidade são importantes. O fato é que os escores dos testes de inteligência estão altamente correlacionados com praticamente todos os resultados que interessam aos seres humanos.56
Quais tipos de resultados o QI prevê? Desempenho acadêmico no ensino fundamental, conquistas educacionais, desempenho no trabalho (avaliação supervisora), conquistas ocupacionais, desempenho no trabalho (amostra de trabalho), aquisição de habilidades em treinamento no trabalho, velocidade de conquista de grau na pós-graduação, sucesso em liderança de grupo (produtividade do grupo), promoções no trabalho, sucesso em entrevista (avaliação do entrevistador do candidato), desempenho de leitura entre crianças com problemas, tornar-se um líder em grupo, desempenho acadêmico no ensino médio, desempenho acadêmico no ensino superior, renda, ter anorexia nervosa, produtividade em pesquisa na pós-graduação, sucesso em liderança de grupo (avaliação dos membros do grupo), criatividade, popularidade entre os membros do grupo, felicidade, procrastinação (atraso desnecessário de ação), mudança de empregos, etc (Strenze, 2015). Essa lista é muito maior, esses são apenas alguns dos indicadores ou preditores aos quais o QI confere, deixando de fora muitos relacionados a questões negativas.
Os mesmos genes que predizem a inteligência também predizem o nível educacional, a longevidade e o autismo, e predizem negativamente o TDAH, o mal de Alzheimer, a depressão, a ansiedade e o número de filhos.57 Uma meta-análise recente constatou, a partir de 240 estudos com mais de 100.000 participantes, que a correlação entre o QI e as notas escolares é de 0,54. Demonstrando que o QI é o melhor indicador individual do desempenho escolar.58
Outro resultado que o QI prevê é o crescimento econômico de uma nação, Francis & Kirkegaard (2022) analisaram essa relação e descobriram que a inteligência nacional tem uma associação extremamente forte com o PIB per capita – cerca de 70% da variação na riqueza das nações pode ser explicada apenas pelo QI. Não apenas limitando-se ao crescimento ecnomômico, praticamente todos os indicadores nacionais de sucesso.59 O leitor poderia se perguntar, e como essa análise pode ser feita de forma imparcial? Sem a amostra enviesada dos pesquisadores e os possíveis modelos? Através da média dos modelos bayesianos, selecionando uma amostra imparcial de todas as alternativas possíveis e relatando os resultados. Os autores repetiram o que havia sido feito na literatura anterior (usar o modelo Bayesiano de média do crescimento econômico com o QI nacional como variável explicativa e incluir o PIB per capita como variável de controle em todos os modelos), porém, também relataram os resultados de todas as variáveis e os padronizaram para comparar os tamanhos de efeito, incluindo todos os testes de robustez, diferentes períodos de tempo, diferentes conjuntos de dados, diferentes dados de contabilidade nacional e usaram diferentes medidas de inteligência nacional.
A pesquisa de seleção de pessoal fornece muitas evidências de que a inteligência (g) é um importante indicador de desempenho em treinamento e no trabalho, especialmente em trabalhos de nível superior. Este artigo fornece evidências de que a inteligência (g) tem grande utilidade em ambientes de trabalho porque é essencialmente a capacidade de lidar com a complexidade cognitiva, em particular, com o processamento de informações complexas. Quanto mais complexa for uma tarefa de trabalho, maiores serão as vantagens que um nível mais alto de g confere ao bom desempenho dessa tarefa. As tarefas cotidianas, como os deveres profissionais, também diferem em seu nível de complexidade. A importância da inteligência, portanto, difere sistematicamente em diferentes áreas da vida social, bem como nos empreendimentos econômicos. […] níveis mais altos de habilidade cognitiva melhoram sistematicamente as chances de os indivíduos lidarem com sucesso com as demandas comuns da vida moderna (como serviços bancários, uso de mapas e horários de transporte, leitura e compreensão de formulários, interpretação de artigos de notícias). Esses e outros dados são resumidos para ilustrar como as vantagens de um QI mais alto, mesmo quando são pequenas, se acumulam para afetar as chances gerais de vida dos indivíduos em diferentes faixas da curva de QI. […]60
Ainda sobre a renda, Dalliard (2016) descobriu que quando analisado separadamente, o QI explica 20% das diferenças de renda entre brancos, 18% entre negros e 16% entre hispânicos. As correlações são de 0,45 (brancos), 0,42 (negros) e 0,39 (hispânicos). Murray & Herrnstein (1994) já haviam feito previsões acerca disso em The Bell Curve, ao qual chamaram de estratificação cognitiva e separaram em 5 classes. Mais tarde, Murray reafirmou suas conclusões sobre a validade preditiva do QI em um ensaio de 1997.
Com base em quase cem anos de estudos empíricos, Schmidt & Hunter (1998) resumiram que a inteligência geral, o traço psicológico que as pontuações de QI refletem, é o principal fator para prever o sucesso profissional, influenciando o desempenho mesmo entre profissionais com muitos anos de experiência.61 Esse traço é mais relevante do que interesses, personalidade, referências profissionais e desempenho em entrevistas. Pessoas inteligentes não se tornam apenas melhores matemáticos, como observou Brooks, elas se tornam melhores gerentes, balconistas, vendedores, prestadores de serviços, operadores de veículos e soldados.
Segundo as observações de Paul Bloom em Psych: The Story of the Human Mind (2023), é difícil encontrar algo valioso que não esteja correlacionado com o QI. Indivíduos com um QI mais alto tendem a ter relacionamentos mais satisfatórios e uma melhor saúde mental. Eles têm uma menor propensão a cometer crimes, demonstram maior apreciação pelos benefícios da cooperação a longo prazo e são menos inclinados a explorar os outros. Além disso, costumam ter um estilo de vida mais saudável e uma vida mais longa, em parte devido às escolhas mais conscientes que fazem; mantêm uma dieta melhor, são mais ativos fisicamente e têm uma menor tendência a fumar.
Um dos sinais de inteligência é ser capaz de aceitar os fatos sem se ofender.
(Richard Feynman)
Conclusões
Apesar de muitas alegações, ainda não existe uma maneira de aumentar qualquer fator de inteligência que sobreviva à replicação independente e crie um peso convincente de evidências. Além disso, estudos que fizeram alegações de aprimoramento têm sérias falhas, incluindo “teaching to the test,” generalizando a partir de amostras pequenas e tratando pequenas mudanças de pontuação em testes individuais como indicações de grandes mudanças nos fatores subjacentes de inteligência. Dentre os hábitos citados por Freire (2023) que reduzem o QI (obesidade, açúcar em excesso, consumir maconha, assistir pornografia e consumir notícias em excesso), todos estão errados. E dentre os que aumentam o QI (consumo de iodo, ouvir música clássica, leitura e meditação consciente), também não possuem uma casualidade. Os pais não têm controle sobre o resultado final ou o desempenho das crianças, independentemente das escolhas que façam em relação a esses estímulos, como brinquedos educativos (Baby Einstein), exposição à música clássica (Tocar Mozart para bebês no útero), ou enviá-los para uma escola renomada (Escola Dalton). Dentre várias medidas de inteligência, os testes psicométricos são os mais confiáveis para avaliar a rapidez, qualidade e capacidade de aprendizado, raciocínio e acumulação de conhecimento das pessoas.62 Eles têm a capacidade de prever diferenças individuais em diversos resultados que estão logicamente e empiricamente relacionados às definições de inteligência.63 O QI é o maior sucesso da psicologia, sendo o psicométrico mais preditivo disponível.64 E possui uma herdabilidade de 80%. Agora, quando falamos sobre escores de QI, é completamente plausível aumentá-los. Quanto à inteligência, é impossível aumentar o QI das pessoas que já vivem em ambientes positivos.65 Como nota Russell (2020), intervenções destinadas a pessoas que já vivem em ambientes positivos, como pré-escolas e programas de treinamento cerebral, geralmente apresentam resultados mínimos ou temporários. Ambientes positivos facilitam a expressão das influências genéticas. Assim, esforços direcionados à melhoria do ambiente para a população em geral provavelmente ampliarão a influência da genética, já que a hereditariedade se tornará mais proeminente. A diferença de QI entre negros e brancos não pode ser explicada por nenhuma das variáveis ambientais (renda, nutrição, exposição ao chumbo, educação, negligência parental, o Efeito Flynn, ameaça de estereótipo e fatores X em geral).
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- ibid. (pp. 192-194) ↩︎
- Pessoas com PKU são incapazes de metabolizar um aminoácido chamado fenilalanina, que é encontrado em frango, claras de ovo, nozes, alguns frutos do mar, batatas e muitos outros alimentos comuns. À medida que as crianças se desenvolvem, a PKU não tratada causa deficiência intelectual e outros problemas neurológicos. No entanto, ao seguir uma dieta especial com alimentos com pouca ou nenhuma fenilalanina, as pessoas com PKU se desenvolvem completamente normalmente. ↩︎
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