Existe no discurso público a ideia de que o vício é uma consequência inevitável do uso de substâncias como anfetaminas, metanfetamina ou cocaína, e é amplamente aceita e raramente questionada. Além disso, a ideia de que comportamentos como compras compulsivas, exercícios excessivos, videogames e o consumo de pornografia também podem levar ao vício é amplamente difundida.Contudo, uma análise mais cuidadosa das evidências científicas sugere que essa concepção está longe de ser precisa. A neurociência, apoiada por estudos comportamentais e experimentos inovadores, tem mostrado que o vício é um fenômeno muito mais complexo, envolvendo uma interação intrincada entre o cérebro, o ambiente e as circunstâncias sociais.
Mitch Earleywine nota que a definição de termos relacionados a problemas com drogas, como “vício”, “dependência” e “abuso”, é imprecisa e varia, sugerindo que a melhor abordagem é catalogar os problemas individuais decorrentes do uso para fornecer informações mais específicas para o tratamento.1 Ou seja, não existe uma definição consensual para ‘vício’. Earleywine nota também que o termo “vício” originalmente descrevia a repetição de um hábito, sem necessariamente envolver drogas, e conotava uma ligação clara entre a pessoa e suas ações. No início do século XX, nos EUA, o vício passou de uma descrição de ações para uma condição médica, implicando que o problema requer intervenção biológica. Essa mudança reforçou o poder das comunidades médicas e pode ter contribuído para o aumento das vendas de medicamentos e tratamentos hospitalares.2 Com frequência, o discurso sobre o uso recreativo de drogas é tomado por aqueles que veem a patologia como destino certo, como se o vício fosse uma consequência inevitável para todos que fazem uso de substâncias. Isso simplesmente não é verdade. Mais de 70% dos usuários de drogas—seja álcool, cocaína, medicamentos prescritos ou outras substâncias—não se enquadram nos critérios de dependência química. Na verdade, as pesquisas indicam de forma consistente que esses problemas afetam apenas entre 10% a 30% dos indivíduos que consomem até mesmo as drogas mais estigmatizadas, como heroína e metanfetamina.3 A dependência constitui apenas uma fração dos efeitos das drogas, mas é ela que monopoliza quase toda a atenção. Se a maioria dos usuários de uma determinada substância não desenvolve vício, então não podemos responsabilizar a droga em si pela causa do vício.
Outro ponto de confusão comum que reside na interpretação do “vício” em comportamentos como compras compulsivas, sexo/pornografia, videogames ou exercício físico (dependências comportamentais). É importante notar que esses comportamentos são, em sua essência, temporários, o que levanta questionamentos sobre o uso do termo “vício”. Embora seja evidente que as pessoas podem se envolver excessivamente nessas atividades, a noção de “vício” sugere uma cronicidade que, de fato, não se alinha com a realidade observada na maioria dos casos, onde o problema se manifesta de forma transitória, em um único período da vida.4 Um estudo investigou a prevalência, comorbidade e trajetórias ao longo de cinco anos de seis comportamentos excessivos (exercícios físicos, comportamento sexual, compras, conversas online, videogame e alimentação), revelando que a maioria dos casos são transitórios e tendem a diminuir com o tempo, independentemente do sexo. Esses achados indicam que tais comportamentos, em sua maioria autolimitados, podem não se enquadrar na concepção tradicional de vícios como progressivos a menos que tratados.5
O que é ainda mais preocupante é que alegações semelhantes, igualmente infundadas, sobre supostas mudanças cerebrais de longo prazo (existem mudanças inevitáveis no cérebro em resposta ao uso de drogas que debilitam o autocontrole do usuário) encontraram seu caminho até o DSM-5 — o padrão-ouro para a classificação de transtornos mentais: “Uma característica importante dos transtornos por uso de substâncias é uma alteração subjacente nos circuitos cerebrais que pode persistir além da desintoxicação, especialmente em indivíduos com transtornos graves.”6 A maldade insidiosa desse tipo de lavagem cerebral sancionada causa angústia a inúmeros indivíduos, que passam a temer que seus cérebros estejam danificados, mesmo sem terem sido apresentados a provas neuroanatômicas. Porque, de fato, não existem.7
Certamente, é improvável que alguém escolha ser um viciado, mas o que as pesquisas mostram é que todos, inclusive aqueles rotulados como viciados, param de usar drogas quando os custos de continuar se tornam altos demais. Ainda é verdade que a posse de uma droga ilegal é percebida como uma atividade ilegal e pode desencadear uma série de penalidades, incluindo ser demitido, perda de privilégios profissionais, perda de bolsas de estudo, e a obrigatoriedade de testes e aconselhamento. Viciados que chamam a atenção das autoridades legais podem não ir para a prisão, mas há uma grande chance de perderem o emprego e até mesmo a oportunidade de seguir com sua carreira.8 Esse paradoxo é central para a compreensão da escolha e também para entender o vício. No discurso cotidiano, esse paradoxo é evitado. De acordo com o dicionário, “vício” é o uso compulsivo de drogas, e, por definição, atos “compulsivos” são atos “irresistíveis”. Em contraste, atos voluntários são resistíveis; você não precisa jantar fora hoje à noite, pode escolher estudar Letras em vez de Engenharia, e assim por diante.9 Hoje, a ideia de que o vício é uma doença tornou-se amplamente aceita.10
O neurocientista Carl Hart, argumenta que o prazer associado à liberação de dopamina, frequentemente apontado como o principal motor da dependência, não explica, por si só, por que a maioria dos usuários de substâncias terapêuticas, como aquelas utilizadas no tratamento do TDAH, não desenvolvem dependência. Hart desafia a noção simplista de que a exposição a uma substância automaticamente leva ao vício, apontando que pacientes medicados com estimulantes para tratar distúrbios como o TDAH, por exemplo, raramente se tornam dependentes. Substâncias como anfetaminas, metanfetamina e metilfenidato, amplamente utilizadas no tratamento de TDAH tanto em adultos quanto em crianças, obesidade e narcolepsia, aumentam a liberação de dopamina, mas a maioria dos usuários terapêuticos não desenvolve dependência. Estudos indicam que crianças tratadas com essas medicações têm menor risco de dependência na vida adulta em comparação àquelas cujo TDAH não foi medicado.11 Se o prazer associado à dopamina fosse o único fator determinante da dependência, por que, então, esses pacientes não se tornam viciados, sempre impulsionados a consumir mais?
Essa reflexão de Hart se alinha com evidências que contrariam a suposição popular de que o vício representa um estado de “fome de dopamina”, experimentos em animais e humanos sugerem que ele é impulsionado por uma hiperatividade do sistema dopaminérgico.12 Embora a dopamina aumente a expectativa de recompensas em humanos, ela tem pouco ou nenhum impacto no prazer efetivamente sentido durante a satisfação de necessidades.13 Esse argumento contraria a visão simplificada que classifica a dopamina meramente como o “neurotransmissor do prazer”, oferecendo uma nova perspectiva que pode desmistificar a dependência, não como uma mera busca hedonista, mas como um fenômeno que envolve motivações muito mais intrincadas.
Mesmo em modelos de dependência em ratos é evidente que o consumo excessivo de drogas não é simplesmente causado pela mera exposição a uma substância. O psicólogo canadense Bruce Alexander e colegas realizaram experimentos conhecidos como “Rat Park” para investigar como o ambiente afeta o consumo de drogas em ratos. Eles notaram que ratos, animais sociais, ficavam estressados e isolados em condições típicas de laboratório, o que poderia influenciar seu comportamento. Para testar isso, criaram um ambiente enriquecido, o “Rat Park”, onde os ratos tinham acesso a contato social, exercício, exploração e morfina adoçada. Comparando com ratos isolados, descobriram que os ratos do Rat Park consumiam significativamente menos morfina, mesmo quando era altamente atraente.14 Resultados semelhantes foram observados com cocaína e anfetamina. Esses estudos demonstraram que, quando recompensas naturais, como interação social e boas condições de vida, estão disponíveis, elas são preferidas às drogas.15 Isso sugere que a disponibilidade de alternativas positivas reduz o uso de substâncias, tanto em animais quanto em humanos. Outros estudos reforçam essa ideia, mostrando que ratos e macacos preferem recompensas alimentares a drogas como cocaína,161718 desafiando a noção de que drogas são irresistivelmente viciantes. Descobertas semelhantes também foram obtidas em estudos laboratoriais com humanos, onde usuários de cocaína são colocados diante de escolhas entre a droga e outros tipos de recompensas. Em outro experimento, os usuários de cocaína tiveram a opção de inalar a substância sob duas condições. Na primeira, precisavam escolher entre cocaína e placebo; na segunda, a escolha era entre a cocaína e uma recompensa monetária de até dois dólares. Como era de se esperar, os voluntários optaram consistentemente pela cocaína em vez do placebo. No entanto, mesmo com a recompensa monetária sendo modesta, eles preferiram consumir menos cocaína quando essa opção estava disponível, em comparação com a situação em que a única alternativa oferecida era o placebo.19
A investigação realizada na Suécia pelo Dr. Robert Cloninger evidencia de maneira robusta a influência genética na propensão ao alcoolismo. As conclusões mostram que o consumo de álcool do pai biológico se revela um indicador mais preciso do alcoolismo nos filhos adotados do que os hábitos dos pais adotivos, independente do ambiente onde as crianças foram criadas. Isso indica que os fatores genéticos exercem uma influência mais preponderante na manifestação do alcoolismo em comparação com o ambiente familiar.20 Estudos genéticos sobre o uso de drogas ilícitas também corroboram a noção de que a predisposição genética desempenha um papel significativo na dependência, mas não necessariamente no uso experimental. Gêmeos idênticos apresentam uma maior correlação quando se trata de dependência, ao passo que a correlação para o uso experimental de drogas é semelhante entre gêmeos fraternos e idênticos. Assim, os genes podem aumentar a susceptibilidade ao vício, mas não determinam de maneira inevitável ou direta o desenvolvimento da dependência. Outros fatores, além da herança genética, são determinantes na busca e no uso de drogas, sendo que a influência genética pode, por exemplo, diminuir a probabilidade de se preferir o álcool caso ele seja percebido como nocivo.2122
Voluntariedade
A alteração cerebral induzida por drogas não é prova suficiente para afirmar que o vício é um estado involuntário de doença. Embora as drogas modifiquem o cérebro, isso não transforma o vício em uma doença. A suposição fundamental é que os indivíduos fazem escolhas que consideram ser de seu melhor interesse. Como o vício é autodestrutivo, a implicação lógica seria que os viciados não estão escolhendo voluntariamente usar drogas. Como os sintomas das doenças são involuntários, o vício, então, deveria ser classificado como doença. Em outras palavras, não foi a evidência médica que transformou o alcoolismo em doença, mas sim a suposição de que o comportamento voluntário não pode ser autodestrutivo.23 Hoje, assim como no século XVII, parte-se do pressuposto de que os indivíduos não se engajam repetidamente em comportamentos autodestrutivos a menos que sejam compelidos a fazê-lo. O vício é um padrão de comportamento persistente e autodestrutivo, e por isso, é visto como involuntário. E se as doenças são involuntárias, o vício, por consequência lógica, é uma doença. Isso é perfeitamente racional, considerando a premissa de que o comportamento voluntário não pode ser autodestrutivo. Mais uma vez, a questão de se o vício é uma doença depende da compreensão do que é comportamento voluntário. Mas, será que o comportamento pode ser autodestrutivo e voluntário ao mesmo tempo? Atividades voluntárias variam em função de custos, benefícios, opiniões alheias, valores culturais e uma miríade de outros fatores que influenciam as decisões. Já as atividades involuntárias variam pouco ou nada em relação aos fatores que influenciam as decisões.24 Assim, podemos testar se o uso de drogas em viciados é voluntário verificando se ele pode ser interrompido pelos fatores que normalmente influenciam as decisões. A cultura ocidental oferece duas visões opostas sobre a possibilidade de um comportamento voluntário ser persistentemente autodestrutivo. Segundo a visão de que um indivíduo não pode engajar-se voluntariamente e de forma persistente em autoagressão, o vício seria necessariamente um uso compulsivo de drogas, pois é também um uso autodestrutivo. O corolário dessa posição é que o vício deve ser uma doença. Se os fatores que influenciam as decisões cotidianas são os mesmos que afetam o uso de drogas nos viciados, então é voluntário. No entanto, se esses fatores só são considerados legítimos quando a ameaça de punição severa é o único meio de parar o uso de drogas, então, para fins práticos, o uso de drogas por viciados seria involuntário. Em seu livro, Heyman descreve programas de tratamento que conseguiram altas taxas de abstinência (85% ou mais) ao submeter médicos e pilotos a testes aleatórios de drogas com o risco de perda de emprego, mas destaca que essa abordagem pode não ser prática ou aplicável a outras populações e sugere testar contingências menos severas, como recompensas em vouchers.
De acordo com as pesquisas, a maioria dos dependentes escolhe parar de usar drogas por volta dos trinta anos,25 e as razões que os levam a isso são, em grande parte, as mesmas que motivam a maioria de nossas ações, como questões financeiras, emprego, responsabilidades familiares e autoestima. A ideia de que o vício é uma doença tem sido baseada em uma visão limitada do comportamento voluntário. O comportamento voluntário tem uma base biológica; o vício também possui uma base biológica. Atos voluntários são guiados por custos e benefícios, como a preocupação com a família, valores culturais, autoestima, medo de punição, entre outros; o mesmo vale para o uso de drogas entre dependentes. Não há uma explicação de como um comportamento pode ser ao mesmo tempo voluntário e autodestrutivo. Heyman conclui que, as relações empíricas e lógicas apresentadas por ele sustentam a afirmação de que “os dependentes escolhem voluntariamente usar drogas de maneira autodestrutiva”. No entanto, nada foi dito sobre como isso ocorre.
O comportamento voluntário nem sempre conduz ao melhor resultado.26 As escolhas podem se estabilizar em um nível subótimo de benefícios, onde esses resultados subótimos e voluntários envolvem o consumo excessivo de pelo menos uma das opções, e as contingências que orientam as escolhas são frequentemente ambíguas. Essas conclusões entram em conflito com a suposição de que as ações voluntárias são guiadas pela racionalidade. De fato, elas sugerem que a ação voluntária e o vício diferem em grau, não em essência. Por exemplo, a recaída e as tentativas de abandonar o uso de drogas são sinais de ambivalência; o vício, por definição, implica uso excessivo de substâncias, e afirmar que o vício é um transtorno é reconhecer que ele não representa um padrão ótimo de comportamento. A pesquisa reforça essa visão mais sombria do comportamento voluntário. Tanto em laboratórios quanto em ambientes naturais, as proporções de escolhas tendem a se aproximar do equilíbrio local, e não do global. Isso, por sua vez, sugere que o vício e outras formas de excesso deveriam ser bastante comuns. No entanto, as sociedades não conseguem funcionar adequadamente se seus membros são tão facilmente seduzidos por recompensas “ilusórias”.27 O viciado escolhe usar a droga mais uma vez, nada além disso. O ponto é que um dia de uso de heroína não significa dependência, assim como comer sobremesa uma vez não faz alguém engordar. Claro, à medida que os dias se acumulam, as características da dependência começam a aparecer, da mesma forma que, conforme as sobremesas se acumulam, as células de gordura aumentam.28
A pesquisa empírica e a lógica do comportamento voluntário conduzem às mesmas conclusões. Ambos revelam o vício como uma escolha, e a escolha como algo insidioso.
A dependência é uma escolha voluntária, e tratamentos eficazes são aqueles que diminuem a atratividade das drogas. Por exemplo, ao tratar os viciados em heroína com a metadona (reduzindo o valor de recompensa da heroína). Essas ações privam a heroína de sua capacidade de atuar como uma recompensa, tornando-a uma escolha menos atraente. Tratamentos de reposição de nicotina funcionam de maneira análoga. O dissulfiram, bloqueia o metabolismo do álcool, fazendo com que uma dose provoque reações tóxicas semelhantes às experimentadas por asiáticos que possuem o alelo que leva ao acúmulo de acetaldeído tóxico. O elemento comum em cada um desses tratamentos é que os agentes farmacológicos reduzem o valor de recompensa da droga. Isso faz perfeito sentido sob a perspectiva de que a dependência é o uso voluntário de drogas. Desenvolva um tratamento que torne a droga menos recompensadora, e o uso da droga diminuirá nos dependentes.
Em contraste, as farmacoterapias para outros transtornos psiquiátricos funcionam de forma diferente. Os esquizofrênicos não escolhem ter alucinações, e aqueles que sofrem de ansiedade não escolhem sentir-se desconfortáveis. Se a dependência é o uso voluntário de drogas, então alterar as consequências do uso das drogas alterará sua frequência. Como vimos anteriormente e continuaremos vendo, quando as consequências negativas do uso de drogas foram asseguradas por testes aleatórios, médicos e pilotos pararam de usar drogas, mesmo que, antes dessa contingência, seu uso fosse tão flagrante que chegasse ao conhecimento de seus colegas.29 Programas que recompensam a abstinência com vouchers também foram efetivos,30 visto que viciados em cocaína estavam dispostos a trocar a euforia pelos vouchers, e as novas atividades sem drogas acabaram suprimindo o uso de drogas.31
A partir de pesquisas biográficas, epidemiológicas, etnográficas e clínicas, emergiu uma conclusão consistente: os dependentes químicos não são usuários compulsivos de drogas. Eles optam por continuar usando drogas e, de fato, podem — e muitas vezes escolhem — parar. O vício configura-se como uma forma de comportamento autodestrutivo: ninguém escolheria ser um dependente, contudo, muitos permanecem nesta condição por anos. Sob a premissa de que o comportamento voluntário é racional, essa situação parece ilógica. As pesquisas e os resultados de Heyman indicaram que a ação voluntária não necessariamente resulta no melhor desfecho. Ela é regulada por dois estados de equilíbrio, que em determinadas circunstâncias levam a escolhas conflitantes. As drogas aditivas intensificam o conflito entre as demandas do equilíbrio local e global.32
Por que não existem mais viciados?
De acordo com pesquisas nacionais recentes, cerca de 95% dos americanos que usaram uma droga viciante uma ou mais vezes não se tornaram dependentes dela, e no caso do álcool, o percentual daqueles que beberam mas não se tornaram alcoólatras foi de aproximadamente 85%.33 O uso de drogas, de maneira geral, e o vício, em particular, estão intimamente ligados aos valores sociais.34 Um viciado, ou nunca aderiu aos valores que promovem o uso controlado de drogas, ou os abandonou em algum momento. Assim, embora o uso de drogas entre viciados permaneça uma escolha voluntária, é pouco provável que diferenças na racionalidade, como a capacidade de realizar análises de custo-benefício, desempenhem um papel predominante em quem se torna viciado. Segundo essa teoria, a autoidentidade e os valores substituem a racionalidade.
Comportamento: punição e recompensa
Será que as drogas realmente diferem tanto de outros reforçadores ou prazeres? Na pesquisa com animais, os gráficos que representam o quanto um animal está disposto a trabalhar por uma recompensa, seja ela alimento ou droga, são praticamente idênticos: se o acesso é fácil e há poucas alternativas, os animais certamente consumirão grandes quantidades de alimentos doces ou gordurosos, ou ingerirão muita cocaína ou heroína. Contudo, quanto mais esforço se exige para obter qualquer recompensa — seja um prazer natural, como comida ou sexo, ou um mais artificial, como as drogas —, menos propensos os animais estarão a buscá-la. Isso é verdade tanto para camundongos, ratos, macacos, quanto para seres humanos. Além disso, tanto em humanos quanto em outros animais, essas respostas variam de acordo com a presença de reforçadores concorrentes.
Por exemplo, estudos mostraram que, quando macacos rhesus precisam pressionar repetidamente alavancas para obter uma injeção de cocaína ou um alimento altamente desejado (pellets de banana), suas respostas variam conforme o esforço exigido e a dose oferecida. De maneira sensata, os macacos trabalham mais arduamente para obter uma dose mais alta de cocaína e dedicam menos esforço por uma dose menor ou um placebo. Eles também optam por maiores quantidades de pellets de banana em vez de doses menores de cocaína. Mesmo na dose mais alta de cocaína oferecida, esses animais nunca escolhem a droga em detrimento dos pellets de banana mais de 50% das vezes.35 O comportamento aditivo segue regras e é moldado por situações, assim como outros tipos de comportamento. Não é tão estranho ou especial quanto costumamos imaginar.
Carl Hart realizou um experimento com usuários de cocaína, que tiveram que escolher entre doses da droga e vales de dinheiro ou mercadorias. Os participantes, que gastavam cerca de 280 dólares por semana em cocaína, não eram usuários eventuais ou esporádicos. Antes de cada escolha, passavam por um “ensaio de amostra” para experimentar a dose do dia e ver os vales oferecidos. Nem os pesquisadores nem os participantes sabiam se a cocaína ou placebo estavam no cachimbo. Após provar a dose, os participantes faziam cinco escolhas, clicando na tela para indicar sua preferência por droga ou vale, e precisavam pressionar a barra de espaço 200 vezes para confirmar a escolha. Os resultados seguiram o padrão observado em estudos anteriores, tanto com animais quanto com humanos. Em geral, doses maiores de cocaína eram preferidas à opção de cinco dólares em vales. No entanto, doses menores eram frequentemente rejeitadas, mostrando que, mesmo diante de drogas, pessoas viciadas podem fazer escolhas racionais, desafiando a ideia de que viciados sempre priorizariam qualquer dose de droga (especialmente após terem provado a substância e acendido o desejo) sobre outras opções.36 Mesmo diante de drogas, pessoas viciadas não são simplesmente escravas do desejo. Elas conseguem fazer escolhas racionais.
No entanto, em média, os participantes dos estudos de Hart consumiram duas doses a menos de cocaína quando a alternativa oferecida era dinheiro em vez de mercadorias.37 Isso implicou que o dinheiro em espécie foi 10% mais eficaz do que os vouchers na redução do uso de cocaína. A sabedoria convencional que afirma que o comportamento aditivo é totalmente irracional não conseguiu explicar esse resultado. Se as pessoas viciadas em cocaína escolhessem as drogas de forma indiscriminada, independentemente das circunstâncias, não deveria haver qualquer diferença. Hart adereça às críticas: As pessoas viciadas não deveriam ser incapazes de resistir às drogas quando estão diante delas e totalmente incapazes de economizar para adquirir drogas ou qualquer outra coisa no futuro? E por que alguém recusaria cocaína pura, de qualidade farmacêutica, em um ambiente legal, para, em vez disso, optar por enfrentar a violência das ruas e adquirir drogas adulteradas e ilegais posteriormente? Isso seria verdadeiramente irracional, se seguirmos a lógica de que o vício “sequestra” o cérebro e toma o controle da vontade, direcionando-a exclusivamente para a busca imediata de drogas.38
Hart argumenta que o crack não é, de fato, a força destrutiva ou irresistivelmente viciante que muitos imaginam. Ele alcançou tamanha prevalência nas periferias não por suas propriedades inerentes, mas pela ausência de alternativas acessíveis de prazer e propósito. As pessoas mais vulneráveis ao crack já carregavam consigo fardos de doenças mentais preexistentes, o que limitava suas escolhas. Dessa forma, as previsões alarmistas que sugeriam uma invasão do crack nas classes mais altas nunca se concretizaram. A droga não atingiu uma parcela significativa dos jovens de classe média ou alta, que, ao contrário das previsões, permaneceram relativamente intactos. Embora a taxa de dependência de crack nas regiões urbanas mais empobrecidas fosse, de fato, maior, ainda assim não era tão significativa quanto se poderia pensar. A questão é que a dependência, em qualquer forma, é menos comum entre aqueles com maiores recursos financeiros. O dinheiro proporciona mais razões para evitar o vício—existem obrigações e responsabilidades no alto escalão social que simplesmente são incompatíveis com estar intoxicado. Tornar-se viciado é, em essência, abdicar de seu nicho social.
Nesse contexto, é interessante observar que muitas pessoas conseguem se recuperar de problemas com álcool e drogas sem a necessidade de tratamento formal. Com base em uma busca sistemática de estudos empíricos realizados desde 2010. Os dados do 3º Levantamento Epidemiológico Nacional sobre Álcool e Condições Relacionadas (nos EUA) revelam que 56,8% dos participantes que alcançaram a abstinência alcoólica no ano anterior à entrevista nunca haviam recebido tratamento. Entre aqueles que atingiram a remissão de baixo risco assintomática no consumo de álcool, 87,7% nunca buscaram tratamento. Um estudo representativo recente dos EUA estimou que 46,1% de todas as pessoas que resolveram um problema com álcool ou outras drogas o fizeram sem seguir qualquer tipo de tratamento formal. As razões mais citadas incluem as consequências negativas do uso de álcool e drogas para a saúde mental e física, pressões sociais que não toleram o uso de substâncias, e a incompatibilidade do estilo de vida. Vários estudos indicaram que indivíduos que se auto-mudaram identificam-se menos com o modelo de doença da dependência e enfrentam o estigma de forma mais eficaz ao se distanciar de outros usuários “viciados”. Na população em geral, a crença na auto-mudança é menos prevalente do que na recuperação após seguir um tratamento.39
Programas anti-drogas
O programa DARE40 é um exemplo clássico do fracasso em compreender a realidade humana, uma manifestação do moralismo ingênuo que confunde virtude com eficácia. Ensinado por policiais, o DARE foca em proporcionar às crianças maneiras criativas de dizer “não” às drogas, enquanto tenta, de forma equivocada, aumentar a autoestima delas—como se essa fosse a chave para evitar o uso de substâncias. No entanto, essa abordagem superficial e paternalista falha em reconhecer a complexidade do comportamento humano e, ao invés de prevenir o uso de drogas, pode até incentivá-lo, alimentando a curiosidade e negligenciando o desenvolvimento de verdadeiras habilidades de tomada de decisão. Um estudo publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology em agosto de 1999 desmonta as alegações do programa. Com base em uma pesquisa com mais de 1.000 crianças de 10 anos que participaram das aulas do DARE, seguidas por uma década, os resultados são alarmantes: aos 20 anos, aqueles que frequentaram as aulas não eram menos propensos a usar maconha, cigarros, álcool ou drogas ilícitas como cocaína ou heroína, nem resistiam melhor à pressão dos pares em comparação aos que nunca participaram do programa. Pior ainda, o estudo revelou que a exposição ao DARE na sexta série estava negativamente relacionada com a autoestima aos 20 anos, indicando que aqueles que passaram pelo programa apresentavam níveis mais baixos de autoestima uma década depois.41 Outra pesquisa da Universidade de Illinois reforça essa falha, sugerindo que alguns adolescentes que participaram do DARE tinham maior probabilidade de usar drogas em comparação com seus colegas que não passaram pelo programa.42 Esse fracasso é inevitável quando a educação formal ignora as verdades duras sobre o vício e o comportamento humano, preferindo a ilusão moralista ao invés de enfrentar a realidade com rigor científico. É a falácia de pensar que boas intenções, sem compreensão profunda, podem substituir a sabedoria prática e os resultados concretos.
Outro exemplo nesse contexto são os chamados avisos de gatilho. Esses avisos não cumprem o propósito de preparar emocionalmente as pessoas para conteúdos perturbadores, nem de incentivá-las a evitá-los. Embora essas sejam as intenções declaradas, o efeito real, em muitos casos, é intensificar a ansiedade em relação ao conteúdo que se aproxima.43 Essas intervenções, apesar de bem-intencionadas, acabam sendo ineficazes ou mesmo prejudiciais, devido à falta de entendimento profundo sobre o comportamento humano e os efeitos reais dessas práticas.
Como bem observou o psicólogo William Colson:
D.A.R.E. dá às crianças confiança para dizer não às drogas e para dizer sim às drogas. Dá-lhes mais confiança do que deveriam ter.44
Colson aponta que o programa, ao invés de educar sobre os perigos reais das drogas, promove uma falsa segurança que pode levar a comportamentos arriscados e ignorantes.
Conclusões
O vício, seja relacionado a substâncias como drogas ou a comportamentos específicos, é frequentemente mal compreendido como uma consequência inevitável do uso, ou como um comportamento compulsivo e incontrolável. Contudo, as evidências científicas mostram que essa visão simplificada não captura a complexidade do fenômeno. Estudos indicam que a maioria das pessoas que usa drogas, incluindo substâncias pesadas como cocaína e heroína, não desenvolve vício. Apenas uma minoria, variando entre 10% e 30% dos usuários, apresentam sinais de dependência, o que sugere que outros fatores além da substância em si são determinantes para o desenvolvimento do vício. A predisposição genética também desempenha um papel importante, mas não determinante, no desenvolvimento do vício. Pesquisas com gêmeos e estudos sobre alcoolismo indicam que fatores genéticos podem aumentar a susceptibilidade ao vício, mas não predeterminam o uso ou a dependência de drogas. A concepção de que o vício é uma doença pode ser questionada pela observação de que a maioria dos dependentes escolhe parar de usar drogas quando os custos se tornam altos demais, como perda de emprego ou problemas familiares. Essa evidência sugere que o vício é, em grande parte, uma escolha voluntária, mesmo que essa escolha seja autodestrutiva e influenciada por fatores complexos. O vício é um distúrbio de escolha.
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- Esses resultados fazem perfeito sentido do ponto de vista de que os viciados são usuários voluntários de drogas. Em contraste, para esquizofrênicos e pacientes com TOC, programas de vouchers não são uma opção clínica. Eles não estão em posição de trocar uma semana livre de sintomas por uma chance de participar de uma aula de culinária. Não faria sentido oferecer prêmios por não exibir tiques. Sintomas de doenças não são algo que se possa barganhar, mas é possível barganhar os sintomas de dependência por um voucher. ↩︎
- Heyman, G. M. (2010). Addiction: A disorder of choice (p. 171). Harvard University Press. ↩︎
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- Hart, C. L., Haney, M., Foltin, R. W., & Fischman, M. W. (2000). Alternative reinforcers differentially modify cocaine self-administration by humans. Behavioural pharmacology, 11(1), 87–91. https://doi.org/10.1097/00008877-200002000-00010 ↩︎
- Hart, C. L. (2013). The behavior of human subjects. Em C. L. Hart, High price: A neuroscientist’s journey of self-discovery that challenges everything you know about drugs and society. Harper. ↩︎
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- O programa DARE nos EUA é equivalente ao PROERD no Brasil, ambos focando na prevenção ao uso de drogas e violência por meio de educação nas escolas. ↩︎
- Lynam, D. R., Milich, R., Zimmerman, R., Novak, S. P., Logan, T. K., Martin, C., Leukefeld, C., & Clayton, R. (1999). Project DARE: no effects at 10-year follow-up. Journal of consulting and clinical psychology, 67(4), 590–593. https://doi.org/10.1037//0022-006x.67.4.590 ↩︎
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- Bridgland, V., Jones, P. J., & Bellet, B. W. (2022). A Meta-Analysis of the Effects of Trigger Warnings, Content Warnings, and Content Notes. https://doi.org/10.31219/osf.io/qav9m ↩︎
- Rab, S. (1997). The debate over D.A.R.E. NDSN. https://www.ndsn.org/mayjun97/dare.html ↩︎