A taxa de penetração da internet no Brasil atingiu impressionantes 92%, superando países como Polônia, Hungria e Japão. No entanto, o panorama muda quando olhamos para o uso de redes sociais: apenas 66% dos poloneses, 69% dos húngaros e 75% dos japoneses utilizam essas plataformas, enquanto 86% dos brasileiros estão conectados às redes sociais.1 É curioso observar que esses países são mais prósperos, seguros e possuem uma população mais bem educada. Atualmente, a internet oferece uma vasta quantidade de livros, cursos gratuitos e até mesmo inteligência artificial capaz de substituir o professor em muitos aspectos (professores não conseguiram distinguir textos de alunos daqueles gerados por IA, frequentemente classificando os textos de IA como de qualidade superior2). Mesmo assim, o brasileiro parece estagnado, sem apresentar sinais de progresso significativo.
Essa estagnação pode estar ligada a uma questão mais profunda relacionada ao impacto da educação na inteligência, como demonstrado por um estudo realizado na Mälardalen University e no Karolinska Institutet, na Suécia, por Eriksson et al., publicado em maio de 2024, investigou o impacto da educação superior na inteligência, utilizando dados longitudinais, o estudo empregou um método de estimação baseado em simulações iterativas para contabilizar erros de medição, tanto na covariável quanto na variável dependente. Ao reanalisar os dados da Coorte Britânica de 1970, os autores descobriram que o efeito estimado da educação superior se reduz para 0,4 pontos de QI por ano. As descobertas indicam que a influência positiva do ensino superior na inteligência é muito menos impactante do que se acreditava anteriormente, e tende a se estabilizar após dois anos de educação formal.3
Outro estudo conduzido pelos pesquisadores Nicholas Judd e Rogier Kievit, publicado em julho de 2024, investigou o impacto de um ano adicional de educação na estrutura cerebral a longo prazo. Utilizando a metodologia de descontinuidade de regressão, um método de inferência causal, os autores analisaram dados de mais de 30.000 indivíduos e não encontraram evidências de que um ano adicional de educação afete qualquer resultado estrutural de neuroimagem. Este resultado nulo mostrou-se robusto em diferentes modalidades, regiões cerebrais e estratégias de análise. Embora um ano adicional de educação seja uma intervenção cognitiva substancial, o estudo não encontrou evidências de plasticidade dependente da experiência a longo prazo.4
Diante desse cenário, os dados sobre a leitura no Brasil revelam um panorama desolador que vai além da mera estatística, refletindo profundas implicações cognitivas e sociais. Observa-se que 31% da população brasileira não lê livros,5 enquanto 30% nunca comprou sequer um exemplar. O fato de que 28% dos brasileiros não gosta de ler e que 13% simplesmente não tem paciência para tal atividade aponta para um problema que transcende o acesso ao material de leitura: há uma desvalorização cultural e uma aversão generalizada à prática da leitura. A média nacional de leitura, de apenas 2,43 livros por ano,6 é sintomática de uma população que, em grande parte, está distante de desenvolver habilidades cognitivas complexas, como a interpretação crítica de textos e o raciocínio abstrato. Tal deficiência é ainda mais alarmante quando consideramos que 3 em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais, ou seja, possuem dificuldades em compreender textos básicos, apesar de, tecnicamente, saberem ler e escrever. Apenas 12% da população é proficiente em leitura, o que indica uma pequena parcela da sociedade com habilidades de leitura adequadas para interpretar e analisar textos em profundidade. Esse índice se torna ainda mais preocupante quando observado no contexto educacional superior: apenas 1/5 dos brasileiros se alfabetiza durante a universidade,7 e entre os graduados, somente 22% atingem um nível de proficiência em leitura.8 Esses dados não apenas revelam uma falha no sistema educacional, mas sugerem uma limitação intrínseca nas capacidades cognitivas da população.
O valor do diploma
Embora muitos brasileiros obtenham diplomas universitários, os números mostram que apenas 22 em cada 100 dos graduados alcançam proficiência em leitura, demonstrando que o sistema educacional está falhando em proporcionar um desenvolvimento intelectual robusto. Dessa forma, o diploma acaba sinalizando mais a capacidade de alguém completar o curso do que o domínio de habilidades críticas como a leitura e interpretação de textos complexos. Isso fortalece a ideia de que a educação superior, não necessariamente corresponde a um aprendizado efetivo, mas funciona como um mecanismo de distinção social sem garantir habilidades cognitivas avançadas. O valor do diploma no mercado de trabalho não reflete o verdadeiro nível de competência acadêmica ou cognitiva do indivíduo, mas sim sua capacidade de “jogar o jogo” educacional até o fim, independentemente do quão bem ele domine as competências esperadas.
Seguindo essa mesma linha, o filósofo Licon argumenta que a educação superior é uma tradição irracional e impraticável da nossa sociedade. Pois, ela consome quatro anos da vida de uma pessoa, tempo durante o qual a oportunidade de ganhar uma renda produtiva é desperdiçada em troca de um certificado abstrato e as universidades vendem esses diplomas não como provas de verdadeiro desenvolvimento intelectual, mas como sinais de conformidade e mediocridade. Já que você não está demonstrando competência em habilidades economicamente valiosas, mas sim submissão a um sistema que há muito tempo deixou de ter qualquer propósito além da sua própria perpetuação. Ele questiona por exemplo, se um diploma em literatura shakespeariana realmente te prepara para enfrentar o competitivo mercado de trabalho moderno, e que o empregador pouco se importa se você pode recitar Hamlet. Da mesma forma que vemos nas críticas de Caplan em “The Case Against Education (2018)”, a ilusão de valor do diploma, está no sinal que ele emite: você é alguém que pode se submeter a quatro anos de instrução rígida, seguir regras arbitrárias, e conformar-se. E é essa conformidade — não a criatividade ou a produtividade — que o empregador moderno realmente busca. Ele comprova isso ao apontar sete exemplos do comportamento estudantil que ilustram sua tese.
- Os alunos geralmente preferem quando os professores cancelam a aula.
- O conteúdo das matérias frequentemente é não relacionado à demanda do mercado de trabalho (por exemplo, Shakespeare).
- O que no Brasil poderia ser comparado a reprodução de ideologias herdadas de pensadores como Marx, Foucault, Paulo Freire e Bourdieu cuja influência permeia os currículos de ciências humanas e sociais,9 sem que se estabeleça uma conexão clara com as competências demandadas pelo mercado moderno, tornando o sistema educacional em um mecanismo de reprodução de elites intelectuais que estão desconectadas da realidade produtiva, perpetuando uma visão de mundo que, em última análise, se traduz em uma rejeição das forças de mercado e da economia capitalista, sem a capacidade de transformar o conhecimento teórico em produtividade tangível.
- O ano de graduação explica a maior parte dos benefícios de um diploma.
- A melhor educação já está disponível online gratuitamente (por exemplo, cursos gratuitos do MIT).
- Reprovar em uma disciplina é pior do que esquecer o conteúdo (após ter sido aprovado).
- Os alunos geralmente preferem aulas mais fáceis do que aulas que ensinam habilidades.
- Colar sem ser descoberto é tão bom quanto passar sem colar.
Licon argumenta que esses comportamentos dos estudantes são curiosos, considerando o alto custo da educação superior. Ele aponta que há um contraste evidente entre as preferências declaradas e as preferências reveladas. Por exemplo, alguém se sentiria frustrado se comprasse um café caro e recebesse apenas metade da xícara, mas os estudantes universitários muitas vezes ficam satisfeitos quando uma aula é cancelada. E afirma que isso pareceria estranho se o objetivo principal da educação superior fosse, de fato, fornecer habilidades e conhecimentos úteis. No entanto, ele sugere que, como o verdadeiro propósito da educação superior é sinalizar inteligência, confiabilidade e conformidade, não importa muito se uma aula é cancelada ocasionalmente. Ele ressalta que, se graduar-se fosse fácil e barato, o diploma perderia seu valor como sinal dessas qualidades; quase todos poderiam obter o título, esvaziando o significado do sinal transmitido. O autor também enfatiza que o valor da educação superior reside na dificuldade, não no conteúdo. De acordo com Licon, quanto mais seletiva e desafiadora for a instituição, mais valioso será o sinal que ela emite. Ele indica que o que não se admite publicamente, mas é revelado pelas ações dos estudantes, é que o conteúdo do aprendizado é, em grande parte, secundário. Por fim, Licon conclui que o verdadeiro mercado da educação superior não se trata de educação, mas da venda de certificações que distinguem os poucos dos muitos. O fato de que muitos estudantes não protestam contra aulas canceladas, e até celebram essas ocasiões, evidencia que estão comprando um título, e não uma educação. Isso, segundo ele, revela a dissonância entre o ideal e a realidade da educação superior. Ou seja, os estudantes não buscam mais o conhecimento pelo seu valor intrínseco, mas sim perseguem notas, elogios e diplomas—sinais de sua prontidão para obedecer às hierarquias corporativas, e não de sua capacidade de inovar ou agregar valor em uma economia competitiva.10
De acordo com a pesquisa mensal da ZipRecruiter, publicada em novembro de 2022, com 1.500 candidatos a emprego, os cursos mais lamentados por seus graduados foram: Jornalismo (87%), Sociologia (72%), Artes Liberais/Estudos Gerais (72%), Comunicação (64%) e Educação (61%).11
Esses números representam a porcentagem de formados que, se pudessem, escolheriam um curso diferente. O padrão é claro: a maioria desses cursos é da área de humanas ou ciências sociais — disciplinas focadas no estudo da sociedade, instituições sociais e as interações humanas. Muitas mulheres que escolhem graduações irrelevantes como Estudos de Gênero e cursam disciplinas sobre Direitos Transgêneros e Desconstrução do Capitalismo frequentemente se queixam da diferença salarial (isso representa impressionantes 63% da diferença salarial inicial entre graduados nos Estados Unidos e 51% na Itália). As mulheres não fazem julgamentos sobre quais carreiras são valiosas no vácuo. Pelo contrário, especialmente em idades mais jovens, quando essas decisões cruciais são tomadas, elas são extremamente sensíveis ao que a cultura em geral projeta como “bom”. Para os homens, isso é um problema menor. Como eles dão mais valor aos benefícios financeiros, tendem a escolher carreiras que pagam mais (como na área de tecnologia), independentemente de como essas profissões são percebidas socialmente. Isso significa que, pelo menos em certa medida, as escolhas de carreira das mulheres podem servir como um termômetro do que a sociedade valoriza como pró-social, significativo e de impacto positivo no mundo.12 Como aponta The Rabbit Hole, se uma formação está ancorada nas ciências naturais (física, química, biologia, geologia, astronomia e botânica) e na pesquisa rigorosa, seus portadores podem esperar prosperar na vida; porém, se o diploma se baseia em pseudociências ou “mesearch” (a prática fútil de escrever sobre suas próprias experiências e tentar extrapolar generalizações sobre o mundo com base nisso), estão fadados ao fracasso.13 As universidades que promovem esse tipo de conteúdo, com seus espaços seguros e discursos de vitimização, estão deliberadamente preparando seus alunos para o fracasso. A baixa qualidade da literatura acadêmica aceita por esses “diplomas de fachada” em teorias críticas já foi exposta. Não só alguns diplomas são inúteis, mas eles também produzem currículos de “diversidade” que ativamente impedem o progresso racial.14
E não para por aí. O problema não é apenas o arrependimento em relação a certos cursos, mas a própria deterioração do valor das universidades. A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, caiu no QS World University Ranking em 2024, e no Brasil houve uma queda alarmante de 89% nas citações por docente.15 O sistema educacional brasileiro enfrenta uma crise profunda, com cerca de 50% das teses universitárias sendo plagiadas, seja por iniciativa dos próprios alunos ou através de empresas que vendem trabalhos acadêmicos prontos.16 Tal prática não apenas mina a integridade da educação e das capacidades cognitivas, como desvia o foco do verdadeiro aprendizado e pensamento crítico. E as teses que são produzidas? Não surpreende que encontramos dissertações de mestrado em Arquitetura debatendo “binariedade” de gênero e o simbolismo da “saída do armário” ou mesmo proclamando que “toda criança é queer”.17
Drew Gilpin Faust, presidente emérita da Universidade de Harvard e professora de pesquisa na Arthur Kingsley Porter University, destaca a crescente polarização entre estudantes e professores nas universidades. Ela observa que esse fenômeno é uma ameaça direta às instituições de ensino superior nos EUA. Faust aponta um declínio dramático na confiança dos americanos de que a educação universitária é essencial: na década de 2010, 99% dos republicanos e 96% dos democratas acreditavam que seus filhos deveriam frequentar a universidade. Agora, quase metade dos pais americanos prefere que eles não o façam — uma mudança que ocorre predominantemente entre republicanos. Ela reforça essa afirmação com dados recentes, revelando que 79% dos republicanos veem como um grande problema o fato de professores estarem inserindo suas visões políticas e sociais liberais em sala de aula. No meu primeiro artigo sobre educação formal, evidenciei como as universidades, tanto nos EUA quanto no Brasil, têm exercido o papel de máquina de doutrinação acadêmica. Nos EUA, por exemplo, os democratas compõem a maioria do corpo docente, e, no campo da história, 95% dos professores votam na esquerda, tendência crescente de 1970 a 2018. Se traçarmos um paralelo com o Brasil, podemos observar fenômenos semelhantes, como os estudos da Gazeta do Povo em 2017 sobre as bibliotecas universitárias, e as revelações sobre os autores mais citados entre 2022 e 2023. Esses dados evidenciam a hegemonia ideológica na academia, que se enraizou ao longo das décadas e agora molda a formação das futuras gerações com um viés claro e deliberado.
Isso não é um acaso. O sistema universitário foi projetado para consolidar a hegemonia cultural e perpetuar uma elite intelectual que molda as mentes jovens de acordo com seus interesses. Esse fenômeno não se limita apenas às preferências ideológicas nas salas de aula, mas se estende a mecanismos institucionais, como as políticas de cotas raciais. Se o sistema fosse verdadeiramente baseado no mérito, conforme Nathan Cofnas, especialista em filosofia da biologia argumenta, a representação de negros em instituições como Harvard seria ínfima – os negros representariam apenas 0,7% do corpo estudantil. Isso porque, na ausência de intervenções como as cotas raciais, as credenciais acadêmicas refletiriam as habilidades reais, e a realidade seria muito mais dura. Segundo ele, a meritocracia verdadeira exporia a realidade inaceitável para os defensores do status quo: fora de áreas como o esporte e o entretenimento, a presença de negros em posições de destaque seria quase nula.18 O que se observa, portanto, é um sistema que sacrifica a excelência em nome de uma justiça social fabricada.
Desajuste evolutivo
Michael Strong, atual Diretor Executivo da Adolescent Flourishing Initiative na Universidade de Austin, possui uma carreira de 30 anos dedicada à educação. Strong, com sua experiência vasta, desafia o status quo ao afirmar que o paradigma contemporâneo de saúde mental adolescente está preso a uma aceitação cega do sistema escolar atual, tratando-o como uma premissa incontestável. Em sua análise, Strong faz referência a Jonathan Haidt e Jean Twenge, que enfatizam o papel dos smartphones e a diminuição do tempo de brincadeiras livres como fatores causais na recente crise de saúde mental entre adolescentes. Strong observa que atualmente os jovens passam a maior parte de seu tempo ou na escola ou online, e embora seja crucial abordar as crises de dependência digital e a falta de brincadeiras, ele insiste que também devemos considerar o desajuste evolutivo nos ambientes de aprendizagem.
Strong opta por se concentrar no suicídio para evitar polêmicas sobre mudanças nos critérios diagnósticos. A maioria dos suicídios está relacionada à depressão ou a outros transtornos mentais subjacentes,19 e é significativo que os suicídios de adolescentes aumentem durante o ano letivo, especialmente às segundas-feiras.20 Strong destaca que esse padrão sazonal desaparece aos 18 anos, e observa que as taxas de suicídio entre adolescentes cresceram dramaticamente no século 20,21 diminuíram nos anos 90 (provavelmente devido aos antidepressivos),22 e voltaram a aumentar desde o início dos anos 2000.23 Para Strong, o aumento dos suicídios entre adolescentes de 1950 a 1990 pode ser um reflexo de um desajuste evolutivo crescente durante esse período, coincidindo com a ascensão do ensino médio em massa.
O autor enfatiza que ainda não sabemos exatamente por que o suicídio entre adolescentes aumentou 400% antes da introdução dos antidepressivos, mas aponta que a correlação com a escolaridade é intrigante. Ele lembra que o percentual de estudantes que completaram o ensino médio aumentou dramaticamente após a Segunda Guerra Mundial,24 e menciona um artigo de 2001 sobre suicídio adolescente que mostra o crescimento das taxas de suicídio entre adolescentes desde os anos 50.25 Em particular, Strong observa que, para os homens, o crescimento na matrícula no ensino médio acompanha o aumento nos suicídios adolescentes, sugerindo que devemos considerar se há algo problemático no ambiente escolar para alguns adolescentes.
Ele também questiona se existe alguma parcela de jovens do sexo masculino que não está prosperando no ambiente do ensino médio. E se pergunta se esses jovens teriam sentido um propósito em um ambiente de trabalho, além de se beneficiarem da convivência com homens adultos. Para ilustrar essa ideia, Strong cita o exemplo dos jovens elefantes machos que não se desenvolvem bem quando não são criados entre machos adultos. Ele se pergunta se o desajuste evolutivo mais evidente seria a falta de conexão, de propósito ou de figuras masculinas adultas.
Michael Strong também reflete sobre a falta de conexão na escola, uma experiência que ele considera infelizmente comum nos Estados Unidos. Citando o Centro de Controle de Doenças, Strong destaca que a “conexão escolar” e a “conexão familiar”26 são os dois fatores protetores mais fortes contra uma ampla gama de disfunções adolescentes. Ele argumenta que, sob uma perspectiva de desajuste evolutivo, isso não é nem um pouco surpreendente. Segundo ele, se evoluímos em pequenos grupos tribais, fortemente conectados com nossos pares, pais e comunidade de modo geral, então o afastamento deles por longos períodos é algo antinatural. Para reforçar sua visão, Strong menciona o caso dos jovens elefantes que, afastados de machos adultos, podem se transformar em maníacos assassinos. Ele acredita que, em um mundo onde os jovens do sexo masculino eram necessários para caçar e contribuir para a sobrevivência da tribo, não haveria anomia nem falta de propósito.
Por fim, Strong discute as descobertas do psicólogo de Stanford William Damon, que ligam o senso de propósito ao bem-estar adolescente. Ele cita pesquisas que mostram que ter um propósito na vida reduz o uso de drogas, álcool e comportamentos antissociais entre os jovens. O autor conclui que, sob uma perspectiva evolutiva, os adolescentes seriam criados dentro de um sistema de significados coerente, com mitos e expectativas comportamentais aos quais todos deveriam aderir. E na maioria dos ambientes, as necessidades básicas de sobrevivência em uma tribo unida e dedicada à sobrevivência, incluindo a honra dada aos caçadores mais bem-sucedidos, teriam conferido um senso de propósito definitivo a todos.27
Então, ao forçar os adolescentes a esse ambiente de educação formal pode significar perpetuar um desajuste que, ao invés de preparar os jovens para a vida adulta, pode estar contribuindo para o aumento de crises psicológicas graves e, em última instância, para a tragédia do suicídio.
Investimentos
Em artigos anteriores já abordei como a educação formal é inútil e as despesas educacionais não podem ser justificadas, pois realmente não apresentam melhores resultados. A autora Diane Yap possui um doutorado em matemática pela Universidade do Havaí em Mānoa e um bacharelado pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Yap argumenta que o aumento do financiamento escolar não garante melhores resultados acadêmicos, como demonstra o exemplo da Califórnia, onde os estudantes negros recebem mais recursos, mas continuam com os piores desempenhos (revelando a falácia central do progressismo: a crença de que mais recursos financeiros automaticamente geram melhores resultados). Nos últimos 50 anos, o financiamento escolar nos EUA quadruplicou, ajustado pela inflação, sem gerar melhorias acadêmicas proporcionais. Segundo ela, o problema educacional está na suposição equivocada de que mais dinheiro resolve questões estruturais, quando na verdade o foco deveria ser em valores, uma cultura de responsabilidade, e da disposição para enfrentar verdades duras.28
Nesse contexto, Graham Cunningham levanta a seguinte questão em seu artigo: até que ponto nosso sistema formal de ensino sobrevive porque a sociedade realmente precisa dele, e não porque o Complexo Industrial da Educação depende dele? Ao citar Ian Lister, ele diz que a educação, como tantas outras áreas, tornou-se uma “indústria de serviços em grande escala, criando demandas para seus próprios serviços e validando suas próprias atividades”. Embora quase todos concordem que a educação é algo positivo, isso não significa, necessariamente, que escolas e universidades sejam, por definição, os principais locais onde essa educação deve ocorrer.29 A educação domiciliar é, em essência, uma extensão natural da paternidade. Durante muito tempo, terceirizamos a criação de nossos filhos ao governo, esquecendo que os pais são perfeitamente capazes de fornecer a educação necessária para o desenvolvimento de suas crianças. Os pais têm um interesse genuíno e intergeracional em ver seus filhos prosperarem, algo que nenhuma instituição pode substituir. Delegar essa responsabilidade ao Estado foi um dos maiores erros da cultura ocidental. Desde o momento em que levamos nossos bebês para casa, já estamos educando-os; a educação domiciliar é simplesmente exercer a paternidade de forma plena e consciente. Quando ensinamos nossos filhos a andar, falar, comer ou usar o banheiro, em algum momento nos preocupamos que eles pudessem ficar para trás por falta de um programa governamental? Claro que não, porque educar faz parte intrínseca da paternidade.
Conclusões
Uma impressionante 92% da população brasileira está conectada à internet, um número superior ao de nações como Polônia, Hungria e Japão. No entanto, ao invés de aproveitar essa conectividade para se especializar ou buscar conhecimento, os brasileiros estão dedicando mais tempo às redes sociais do que esses países, que são mais prósperos, seguros e têm sistemas educacionais mais avançados. Isso é um reflexo de uma oportunidade desperdiçada, considerando a vasta quantidade de recursos educacionais e livros disponíveis digitalmente. A baixa média nacional de leitura (2,43 livros por ano) é um claro indicador da falta de exercício das capacidades cognitivas mais avançadas, como a interpretação crítica e o raciocínio abstrato, entre grande parte da população. É alarmante que 3 em cada 10 brasileiros sejam considerados analfabetos funcionais, o que significa que, embora saibam ler e escrever, não possuem a capacidade de compreender textos básicos. Essa deficiência severamente restringe suas oportunidades no mercado de trabalho, seu acesso à informação e sua capacidade de participar plenamente na sociedade. Além disso, muitos estudantes estão ingressando no ensino superior sem a habilidade de leitura necessária, comprometendo a qualidade do aprendizado, o desempenho acadêmico e, inevitavelmente, a competência dos profissionais que serão formados.
- Gramlich, J. (2024). Germans stand out for their comparatively light use of social media. Pew Research Center. https://www.pewresearch.org/short-reads/2024/03/06/germans-stand-out-for-their-comparatively-light-use-of-social-media/ ↩︎
- Fleckenstein, J., Meyer, J., Jansen, T., Keller, S. D., Olaf Köller, & Jens Möller. (2024). Do teachers spot AI? Evaluating the detectability of AI-generated texts among student essays. Computers & Education: Artificial Intelligence, 100209–100209. https://doi.org/10.1016/j.caeai.2024.100209 ↩︎
- Eriksson, K., Kimmo Sorjonen, Falkstedt, D., Melin, B., & Gustav Nilsonne. (2024). A formal model accounting for measurement reliability shows attenuated effect of higher education on intelligence in longitudinal data. Royal Society Open Science, 11(5). https://doi.org/10.1098/rsos.230513
↩︎ - Judd, N., & Kievit, R. (2024). No effect of additional education on long-term brain structure: a preregistered natural experiment in over 30,000 individuals. BioRxiv (Cold Spring Harbor Laboratory). https://doi.org/10.1101/2024.05.17.594682
↩︎ - Picodi. (2019). Comprando livros no Brasil (e pelo mundo). Picodi.com. https://www.picodi.com/br/mao-de-vaca/comprando-livros-no-brasil-e-pelo-mundo ↩︎
- Instituto Pró-Livro. (2016). Retratos da leitura no Brasil: 4ª edição. IBOPE Inteligência. https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf ↩︎
- Ação Educativa. (2018). INAF Brasil 2018. Ação Educativa. https://acaoeducativa.org.br/wp-content/uploads/2018/08/Inaf2018_Relat%C3%B3rio-Resultados-Preliminares_v08Ago2018.pdf ↩︎
- Ação Educativa. (2016). INAF Brasil 2016: Letramento e mundo do trabalho. Ação Educativa. https://acaoeducativa.org.br/wp-content/uploads/2016/09/INAFEstudosEspeciais_2016_Letramento_e_Mundo_do_Trabalho.pdf ↩︎
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- “Mesearch” é o equivalente acadêmico de escrever um diário e supor que toda a população viveu o mesmo dia que você. Não produz ciência real. ↩︎
- The Rabbit Hole. (2022). The Racial Industrial Complex: Universities, Fake Degrees, & Woke Racism. The Rabbit Hole. https://therabbithole84.substack.com/p/the-racial-industrial-complex-universities ↩︎
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